Socialismo cria a maior crise migratória da América Latina

Por Milkylenne Cardoso
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Na segunda-feira (25), o jornalista venezuelano Miguel Salazar informou que seis opositores do chavismo, ligados à líder da oposição, María Corina Machado, estão refugiados na Embaixada da Argentina na Venezuela. Os nomes de cinco já foram publicados, entre eles, o de Magallí Meda, Claudia Macero, Humberto Villalobos, Pedro Urruchurtu e Omar González.

Ao aceitar proteger os opositores ao regime de Nicolás Maduro, a embaixada argentina em Caracas ficou sem luz devido às ordens do governo venezuelano de cortar o fornecimento de energia elétrica à residência. O ocorrido foi noticiado nesta terça-feira (26) pelo governo argentino através de um comunicado emitido pela Presidência da República.

“A República Argentina manifesta a sua preocupação pelo incidente ocorrido ontem, que resultou na interrupção do fornecimento de energia elétrica à residência oficial em Caracas, e alerta o governo da Venezuela sobre qualquer ação deliberada que coloque em risco a segurança do pessoal diplomático argentino e dos cidadãos venezuelanos sob proteção, lembrando a obrigação do Estado receptor de salvaguardar as instalações da missão diplomática contra intrusões ou danos e preservar a tranquilidade e a dignidade da mesma”, publicou.

A perseguição e a censura à oposição, se transformou em um dos principais fatores para a emigração de milhares de venezuelanos na última década. Além do medo, questões como a falta de insumos, de medicamentos e de comida também se tornaram fundamentais na decisão de começar a vida em outro país.

No entanto, apesar do alto índice de emigrantes e refugiados da Venezuela, outros países da região como Cuba, Nicarágua e até a própria Argentina (durante a pandemia e o governo kirchnerista), também tiveram que lidar com a mesma problemática. A forte intromissão do Estado e o controle da população em governos socialistas terminaram forçando o abandono de empresas e de inúmeras famílias de seus países.

A crise venezuelana

Segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), “mais de 7,7 milhões de pessoas deixaram a Venezuela em busca de proteção e de uma vida melhor; a maioria — mais de 6,5 milhões de pessoas — foi bem recebida por países da América Latina e do Caribe”

“Quase 80% estão localizados na América Latina e no Caribe, sem perspectivas de retorno no curto ou médio prazo”, informa a agência.

De acordo com os dados publicados pela agência, “em 2018, uma média de cinco mil pessoas deixaram a Venezuela todos os dias. Milhares deles atravessam diariamente a fronteira com a Colômbia, enquanto outros se dirigem para o Brasil, Chile, Equador ou Peru, e há outros que fazem arriscadas viagens de barco às ilhas do Caribe”.

Em relação aos pedidos de asilo na região, até o momento, foram recebidos mais de um milhão. “Desde 2014, o número de venezuelanos que solicitaram asilo em outros países aumentou 4.000%”, afirma a ACNUR.

O relatório atualizado da Plataforma Regional de Coordenação Interinstitucional para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V) indica que até 2023 mais de 2, 88 milhões de venezuelanos escolheram a sua vizinha Colômbia como destino principal; outros 1,5 milhão foram para o Peru; 510,5 mil para o Brasil; 474,9 mil para o Equador e 444,4 mil para o Chile.

Sem vacinas básicas e viagem para comprar fraldas

A venezuelana Teresa Alejo (38), formada em Design de Moda, Educação Especial e Psicologia, decidiu emigrar para a Argentina há sete anos junto a sua filha de um ano, e depois para os Estados Unidos. Para a professora, era “impossível viver em um país [na Venezuela] onde não existiam sequer vacinas básicas para um bebê, obrigatórias no seu crescimento e no calendário mundial”.

Alejo comenta que “foi uma odisseia viajar todos os meses para a Colômbia sozinha sem ela [sua bebê] para comprar fraldas, remédio para epilepsia do meu irmão e comida”.

A história de Teresa é similar a de Carlos Romero (39), técnico em maquinaria industrial, que foi morar na Argentina em busca de uma oportunidade para a sua mulher e seus dois filhos pequenos. “Aqui na Argentina nós tivemos a possibilidade de recomeçar as nossas vidas”, diz o venezuelano.

“Lá no meu país, não havia mais como sobreviver. Lembro que para comprar as fraldas da minha bebê era um sacrifício e saíamos às ruas com medo de sermos atingido por alguma bala pelo confronto que havia entre a polícia do regime e a população”.

A epidemia que atravessa outros países da região

Além dos Venezuelanos, outros latino-americanos fogem em busca de proteção e de novas oportunidades. Este é o caso dos cubanos que desde o início da Revolução em 1959 buscam uma saída para a crise econômica, política e social do país. A Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos (o principal destino dos cubanos) anunciou que em 2023 registrou mais de 153 mil entradas irregulares de cubanos em seu país.

Somado aos mais de 313 mil que entraram sem documentos em 2022, isto “representa o maior número de migrantes cubanos já registrado em dois anos consecutivos desde o início do êxodo cubano pós-revolucionário em 1959”, informou Jorge Duany, diretor do Instituto Cubano de Pesquisa da Universidade Internacional da Flórida para o Infobae.

A América Latina também foi escolhida como destino de milhares de cubanos. Mais de 36.574 cubanos solicitaram refúgio no México entre 2022 e 2023 e outros 22 mil foram para o Uruguai, de acordo com os dados oficiais apresentados por esses países.

A alta inflação, a pobreza e o avanço do governo autoritário de Daniel Ortega, provocaram uma forte crise migratória na Nicarágua. Com 6,5 milhões de habitantes, o país se transformou em um dos principais contribuintes de migrantes que tentam cruzar a fronteira dos EUA. Entre janeiro e novembro de 2022, mais de 180 mil nicaraguenses fizeram o trajeto, cerca de 60 vezes mais do que no mesmo período dois anos antes, de acordo com dados da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos.

De acordo com o jornal Confidencial, entre 2018 e 2022, 604.485 cidadãos deixaram a Nicarágua; cerca de 100 mil entre 2018 e 2019; 14.773 em 2020 — primeiro ano da pandemia, em que a maioria dos países fechou as fronteiras; 161.269 em 2021; e 328.443 em 2022. Um total de 328.443 nicaraguenses já deixou o país em 2022.

No começo das manifestações contra a ditadura de Ortega, em 2018, mais de 100 mil pessoas já haviam realizado o pedido asilo político (entre eles, jornalistas, estudantes, defensores de direitos humanos, agricultores, religiosos e empresários), na maioria dos casos por perseguição, censura e abuso dos direitos humanos.

No entanto, um dos fatores que hoje mais eleva o índice de emigração moderna é a pobreza, o desemprego e a inflação. Este foi o caso da Argentina, que, em 2020, 2021 e 2022, teve um dos maiores índices de abandono.

Segundo a Direção Nacional de Migrações (DNM) um total de 762.858 argentinos deixou o país entre 7 de setembro de 2020 e 14 de abril de 2022. Os países escolhidos como destino foram Brasil, com 23,2% dos imigrantes; Espanha com 18,8%; e Chile com 13,4%. Os Estados Unidos, Uruguai e Paraguai receberam cada um 9%, 8% e 6% respectivamente.

Os dados mostram que a maioria dos emigrantes são jovens entre os 25 e os 40 anos (39%). Por sua vez, foi observado um índice menos pronunciado em crianças entre 1 e 5 anos (10%).

Fonte: www.gazetadopovo.com.br

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