Vinhos de Portugal 2024: conheça as mulheres que desafiam o sexismo e fazem algumas das melhores garrafas lusas | Empresas

Por Milkylenne Cardoso
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Através de taças tintas, rosés e brancas, enólogas e produtoras mostram ainda no primeiro gole que o bouquet carrega tradição e família mas que, com toques de sensibilidade e pioneirismo, dão ao vinho um sabor feminino. Na 11ª edição do Vinhos de Portugal, uma realização dos jornais O Globo, Valor Econômico e Público, em parceria com a ViniPortugal, elas mostram que o mundo dos vinhos é lugar de mulher ao assinarem alguns dos rótulos mais cobiçados do evento.

O Vinhos de Portugal chega neste domingo (9) ao seu último dia no Jockey Club, antes de se mudar para São Paulo a partir de quinta-feira. Ainda é possível participar das provas comandadas pelos críticos, conhecer o Salão de Degustação ou curtir as conversas do Tomar um Copo. Os ingressos estão à venda no site: ingresse.com

Produtora da Quinta da Casa Amarela, na região do Douro, a “portuguesa com coração carioca” Laura Regueiro teve os caminhos construídos pela História e para fazer história. Professora da disciplina, ela viveu décadas em sala de aula até realmente se apaixonar pela produção de vinho, negócio da família desde o século XIX. Laura entrou na atividade no final da década de 1970 e foi a primeira mulher a comandar a Quinta. Depois, fez parte de outra história: foi uma das primeiras vinicultoras a engarrafar o vinho sem passar por distribuidora.

“O importante é ser bom naquilo que faz. Eu me preocupo em sempre fazer o melhor”, afirma Laura. “O mundo do vinho não é estático. Há 50 anos, não haveria nenhuma mulher fazendo vinho. Quem dominava esse mundo era o homem, mas aí apareceram mulheres enólogas, viticultoras e, hoje, é um novo caminho”.

O pioneirismo feminino, no entanto, tem um passado mais antigo na família da produtora Elsa Santana Ramalho, que representa a quinta geração de mulheres a comandar uma vinícola na região do Alentejo. Do final do século XIX, o matriarcado que rege a Casa dos Sabicos começou com Maria, mais conhecida como Vó Sabica, a mulher “sabichona” que cuidou sozinha de oito filhos e foi uma das precursoras da produção de vinho na região.

Séculos depois, Elsa bebe da sabedoria ancestral da produção de vinhos, praticamente no sangue da família, e conta o segredo para o sucesso de mulheres nesse universo: trazer a sensibilidade e a intuição para levar à mesa rótulos com outras histórias.

“As mulheres trazem coisas muito interessantes para os vinhos. Aliás, como é em quase tudo. Dá para trazer para o mundo dos negócios uma intuição que, aliada com a sensibilidade e a capacidade que nós temos naturalmente. Temos tudo para sermos tão ou mais estrelas que os homens” conta Elsa, que quer voltar a produzir o Graça, rótulo em homenagem à sua mãe e, agora, à sua filha.

Tradição também deu à produtora Ana Rola um interesse especial pelo vinho, um ofício passado de geração em geração na família desde XIX, que durante mais de 200 anos ficou sem rótulo próprio. O apreço pela bebida começou fora dos copos em caminhadas e trocas com o avô, Alberto Rola, um de seus melhores amigos na infância. Décadas depois, ela juntou-se a um amigo, José Pimentel, e inaugurou a Rola Wines, primeiro rótulo com o sobrenome passado aos filhos na região do Douro.

Já há dez anos na vinícola, inaugurada em 2014, produziu rótulos em homenagem à nova geração da Rola Wines, sua filha Malu, gestada na mesma época da nova marca, e Maitê, a filha de José Pimentel, também de dez anos.

“Quando comecei a trabalhar no ramo, tinha um problema de relação no armazém em que eu atuava, porque apenas lidava com homens” conta. “Acho que o maior desafio é nunca pensar nos desafios que enfrentamos”.

Além de uma expansão de mulheres à frente de grandes negócios do vinho, a jovialidade mostra que sensibilidade pode ser aliada à inovação da produção à escolha em uma carta de vinhos premium. Na produção de vinhos desde os 14 anos, a sommelière argentina Cecília Aldaz trabalhou em diversas áreas ligadas à produção, degustação e venda de vinhos.

Depois de viajar o mundo, ela é sócia do restaurante Oro, no Leblon, que tem soma duas estrelas Michelin, e conta que vê diariamente resultados particulares da vivência com o vinho que ajudam nas escolhas dos clientes.

“Acho que a mulher escuta mais do que fala e acaba também prestando mais atenção no que a pessoa quer em um vinho. Isso permite também que nós, mulheres, possamos ter uma forma mais criativa de encontrar soluções e apresentar aos degustadores os sabores buscados” afirma Cecília, que também é uma das principais críticas de vinho do país.

Na outra ponta, o pioneirismo feminino e jovial também traz alguns empecilhos e medos à enóloga Mariana Cavaca, que com apenas 36 anos passou a comandar o setor de Enologia da Adega de Redondo, uma das principais vinhas corporativas da região do Alentejo. Embora o caminho para mais mulheres na produção já tenha sido aberto, há ainda dificuldades que enfrentou desde o começo da trajetória no vinho, aos 26 anos.

“É gratificante ajudar a coordenar uma safra de 4 milhões de litros de vinho no ano, como é o caso de um de nossos rótulos. Por outro lado, vejo que tive algumas dificuldades desde o começo por ser jovem e mulher, até porque na área corporativa do vinho, não é normal uma mulher ocupar esse lugar” conta Mariana, primeira enóloga e primeira comandante do setor de Enologia da Adega de Redondo.

Se você quiser aproveitar a programação deste domingo (9) , último dia de Vinhos de Portugal no Rio, ainda há ingressos para o Salão de Degustação, onde estão todos os 86 produtores e para as provas “Setúbal, vinhos de areia e mar”; “Beira Interior, uma região a descobrir”; e “Harmonização de vinhos do Dão com pratos da Quinta da Henriqueta”.

O Vinhos de Portugal tem preços a partir de R$ 157,30, e assinantes do Globo e do Valor Econômico têm 20% de desconto no valor dos ingressos. Para mais informações, acesse: vinhosdeportugal.oglobo.com.br

O Vinhos de Portugal 2024 é uma realização dos jornais O Globo, Valor Econômico e Público, em parceria com a ViniPortugal, com a participação do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto; apoio das Comissões de Vinho de Alentejo, Beira Interior, Dão, Lisboa, Península de Setúbal, Tejo, Vinhos Verdes e da Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal, Turismo de Portugal, Tap Air Portugal, AB Gotland Volvo e Shopping Leblon; água oficial Águas Prata, hotel oficial Fairmont Rio (RJ), local oficial Jockey Club Brasileiro (RJ), loja oficial Porto Divino, rádio oficial CBN e curadoria Out of Paper. A edição de São Paulo conta ainda com a Cidade de São Paulo como cidade anfitriã e SP Negócios como apoio institucional.

Elsa Santana, Laura Regueiro e Mariana Cavaca, no segundo dia do Vinhos de Portugal, no Jockey Club — Foto: Foto: Rebecca Maria/O Globo

Fonte: valor.globo.com

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