O processo de transição energética não deve ser pautado pela ideia de substituição de fontes fósseis, mas de complementaridade para garantir crescimento econômico e segurança energética, afirmou o sócio e líder de consultoria para o setor de energia na PwC Brasil, Daniel Martins, em evento que comemora os 20 anos da seção Rio do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
Martins observou que, apesar do aumento da volatilidade de eventos climáticos extremos, a projeção é que continue a haver demanda global por combustíveis fósseis, embora o crescimento maior deva vir das fontes renováveis.
“O mundo vai demandar cada vez mais energia e vamos precisar de todas as fontes. Com exceção do carvão, se busca ter complementariedade maior [de fontes de energia na matriz energética]”, disse. A transição energética exige, segundo ele, uma preocupação maior sobre como prevenir e mitigar riscos.
Segundo Martins, a mudança climática não é o único impulsionador da transição para uma matriz mais limpa: a segurança energética e novas tecnologias também têm um papel-chave nesta equação, uma vez que novas possibilidades como painéis solares, biocombustíveis e hidrogênio verde só são possíveis com os avanços tecnológicos.
Na visão de Martins, a transição para fontes de energias limpas dependerá de investimentos em uma combinação de soluções: “O que acreditamos é que o caminho em direção ao ‘net zero’ não é um só, não há uma bala de prata, e isso inclui a exploração e produção de petróleo com a menor quantidade possível de emissões”, disse.
Também presente no evento, a diretora-executiva de gás natural do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Sylvie D’Apote, destacou que o setor de óleo e gás pode contribuir para o processo de transição energética. “Precisamos emitir o mínimo possível nesse processo”, disse. A executiva afirmou que o Brasil é hoje o 9º maior produtor de petróleo e gás no mundo e que esse é um vetor basilar da economia e crescimento do país.
“Já exploramos o pré-sal e precisamos continuar abrindo novas fronteiras, como a Margem Equatorial, obviamente com todo o cuidado. Do contrário, o setor de óleo e gás não seguirá crescendo”, destacou. D’Apote também afirmou que é necessário engajar a população mais jovem para buscar soluções inovadoras.
O crescimento sustentável dos negócios e da economia se tornou um pilar relevante para empresas, governos e instituições com o avanço da agenda ESG, sigla que designa aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa.
O secretário de governança na Eletrobras, Bruno Klapper Lopes, que também falou no evento, reconheceu que mudanças nas rotas estratégicas das companhias rumo à transição energética são complexas, uma vez que implicam novas perspectivas de risco.
Mas, segundo ele, empresas com ritos de governança bem estruturados têm mais facilidade de convencimento porque contam com processos melhor estruturados que conferem maior confiança.
“O desafio é se os atos das empresas correspondem às falas [para públicos externos]. A governança, se bem manejada, pode ajudar que o que declara seja aplicado. Se não for, pode destruir valor”, afirmou.