O ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro assinou nesta quinta-feira (31/03) sua filiação ao União Brasil e anunciou que abriu mão da pré-candidatura à Presidência da República.
“O Brasil precisa de uma alternativa que livre o país dos extremos, da instabilidade e da radicalização. Por isso, aceitei o convite do presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, para me filiar ao partido e, assim, facilitar as negociações das forças políticas de centro democrático em busca de uma candidatura presidencial única”, escreveu Moro em rede social.
“A troca de legenda foi comunicada à direção do Podemos, a quem agradeço todo o apoio. Para ingressar no novo partido, abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor”, completou.
A cerimônia de filiação ocorreu em um hotel em São Paulo, para onde Moro transferiu seu domicílio eleitoral. Presente na assinatura, o deputado e vice-presidente do União Brasil, Junior Bozzella, afirmou que o partido vai definir o “melhor lugar pertinente onde ele possa se encaixar”.
“Ele estava habilitado a concorrer a diversos cargos, trouxe o domicílio eleitoral para São Paulo. Ele vem para somar, tem 10% nas pesquisas”, declarou Bozzella, citado pela imprensa brasileira.
O ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro havia se filiado ao Podemos em novembro do ano passado, um ano e meio depois de deixar o governo federal, oficializando sua entrada de vez na política partidária. À época, Moro assumiu uma postura de pré-candidato à Presidência, embora não tenha feito um anúncio específico sobre concorrer a esse cargo, afirmando que “estava à disposição” do Brasil para assumir um papel de liderança de um “projeto nacional” de “reconstrução”.
Possível candidato a deputado
Agora, no novo partido, Moro estaria sendo pressionado a disputar o Congresso. Nesta quinta-feira, o deputado federal Alexandre Leite, do União Brasil, disse que o ex-juiz será candidato a deputado federal por São Paulo. Segundo o jornal O Globo, a equipe de comunicação de Moro primeiro confirmou a decisão dele de concorrer ao Congresso, mas depois recuou, dizendo que o cargo ainda não está definido.
Em nota, a assessoria de imprensa de Leite informou que “Moro vem para o União com a expectativa de ser um dos deputados mais votados da história do país. Daremos todas as condições para isso”. A informação também foi confirmada pelo deputado ao jornal Folha de S. Paulo.
Leite, também tesoureiro do União Brasil (resultante da fusão entre DEM e PSL), é um dos líderes do partido em São Paulo, juntamente com o pai, o vereador Milton Leite, que é presidente da Câmara Municipal paulistana, e Antonio Rueda, presidente do diretório estadual.
Nas pesquisas eleitorais para presidente da República, Moro aparecia bem atrás de Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto o petista obteve 43% das intenções de voto na última sondagem do Datafolha, na semana passada, o atual presidente apareceu em segundo lugar, com 26%. Empatados em terceiro lugar pela margem de erro estavam Moro (8%) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT, com 6%).
Lava Jato e governo Bolsonaro
Sergio Moro teve seu nome projetado nacionalmente pela Operação Lava Jato, que provocou um terremoto no mundo político brasileiro. Em 2018, ele oficialmente entrou para a política ao aceitar integrar o atual governo como um superministro da Justiça, levantando questionamentos sobre sua conduta como magistrado.
Afinal, ele havia sido diretamente responsável por tirar do páreo nas eleições de 2018 o ex-presidente Lula, beneficiando diretamente o político de extrema direita Bolsonaro, com quem o então juiz viria a se aliar oficialmente meses após a prisão do petista.
Moro finalmente rompeu com Bolsonaro em abril de 2020, após permanecer tumultuados 16 meses no cargo de ministro. Ele deixou o Ministério da Justiça acusando o presidente de interferência política na Polícia Federal.
Mas o ex-juiz também acumula desgastes, tendo sua própria carga de escândalos e uma trajetória política tumultuada. Nos últimos anos, Moro acumulou sucessivas derrotas junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), que macularam ainda mais sua conduta na Lava Jato.
Em março de 2021, o ministro Edson Fachin anulou todas as condenações de Lula no âmbito da operação, incluindo a notória sentença do tríplex elaborada por Moro que abriu a porta para que o petista ficasse de fora do pleito de 2018. Em junho, foi a vez de o plenário do STF manter uma decisão que declarou que Moro era suspeito para julgar Lula.
Os ministros se basearam especialmente nas revelações feitas pelo site The Intercept Brasil, que em julho de 2019 divulgou diálogos privados entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol. As conversas indicaram conluio e várias condutas ilegais executadas pela dupla para assegurar a condenação de Lula e outros réus.
Também pesou no entendimento da maioria dos ministros do STF o fato de Moro ter aceitado um cargo de ministro no governo Bolsonaro poucos meses após ter determinado a prisão de Lula.
Desde que deixou o governo, Moro adicionou mais questionamentos sobre sua conduta ética. Ele também perseguiu iniciativas mais lucrativas, tornando-se membro da Alvarez & Marsal, empresa de consultoria com sede nos Estados Unidos que atua – e lucra – como administradora judicial de empreiteiras emparedadas pela Lava Jato.
No final de outubro, a Alvarez & Marsal e Moro encerraram a parceria, deixando o ex-juiz livre para se filiar ao Podemos.
Fonte: Dw Brasil.