Por que a morte do presidente do Irã não muda nada para Israel

Por Milkylenne Cardoso
6 Min Read

A morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, num acidente de helicóptero no noroeste do país no último fim de semana, obviamente não foi lamentada em Israel, o grande inimigo e alvo do regime dos aiatolás no Oriente Médio.

Entretanto, também não foi comemorada com muita ênfase:
políticos israelenses e analistas internacionais foram unânimes em afirmar que a
ameaça que Teerã representa para o país não deve ser atenuada com a mudança na
presidência iraniana – alguns até alertam para riscos maiores.

O Irã apoia dois grupos terroristas com quem Israel trava
combates em duas frentes neste momento, o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, na
Faixa de Gaza, além dos rebeldes houthis do Iêmen, que estão visando
embarcações israelenses no Mar Vermelho.

Em meio à guerra em Gaza, deflagrada em outubro do ano
passado com os ataques do Hamas, Irã e Israel trocaram fogo diretamente em
abril, um fato inédito, já que Teerã costumava agredir os israelenses somente por
meio dos grupos terroristas que apoia e financia.

Tudo começou em 1º de abril, quando ocorreu um ataque ao
consulado iraniano em Damasco, atribuído a Israel e no qual morreram 13
pessoas: sete membros da Guarda Revolucionária do Irã, entre eles, o
brigadeiro-general Mohamed Reza al Zahedi e seu assistente, general Mohammad
Haji Rahimi, e seis cidadãos sírios.

Uma autoridade israelense disse ao site Axios que a
inteligência do país vinha monitorando Zahedi já há bastante tempo porque ele
seria encarregado de armar o Hezbollah e outros grupos pró-Teerã no Líbano e na
Síria para que realizassem ataques contra Israel. Segundo essa fonte, uma
“janela operacional” para matá-lo só foi aberta poucos dias antes do ataque em
Damasco.

No dia 13, o Irã reagiu com uma ofensiva com mais de 300
drones e mísseis em território israelense, dos quais 99% teriam sido
interceptados por Israel e forças aliadas, de países como Estados Unidos, Reino
Unido e França. Ninguém foi morto e não houve feridos graves. Seis dias depois,
houve a tréplica, com um ataque de Israel atingindo uma base militar na
província iraniana de Isfahan.

Essa troca de hostilidades e os conflitos com Hamas e
Hezbollah fizeram muita gente especular se os israelenses poderiam estar por
trás de morte de Raisi, mas Israel negou prontamente a acusação e especialistas
consideram a hipótese muito improvável, devido a um fato muito simples: não
haveria nenhum ganho substancial com uma operação desse tipo.

O parlamentar Avigdor Liberman, presidente do partido de
oposição Yisrael Beytenu, resumiu o sentimento geral, ao dizer ao site de
notícias Ynet que nada deve mudar nas políticas do Irã no Oriente Médio.

“Para nós, não importa, não afetará a atitude de Israel [em
relação ao Irã]. As políticas do Irã são definidas pelo líder supremo [aiatolá
Ali Khamenei]”, disse Liberman.

“No entanto, não havia dúvida de que o presidente era um
homem brutal. Não vamos derramar uma lágrima”, ironizou.

Em entrevista ao The New York Times, Meir Javedanfar,
professor iraniano-israelense da Universidade Reichman, em Israel, afirmou que,
nas circunstâncias atuais, pesquisadores do programa nuclear iraniano e líderes
militares são mais importantes para o regime dos aiatolás do que o presidente
do país.

“Sua ausência ou presença não teria muito impacto”, disse Javedanfar.
“O mesmo não pode ser dito de um cientista nuclear, trabalhando num programa
que poderia produzir uma bomba nuclear para ameaçar Israel.”

Javedanfar afirmou que Raisi não passava de “um soldado de
infantaria do líder supremo” e “um servo leal, com pouca influência dentro do
regime”.

Ou seja: o que interessa a Israel é a sucessão de Khamenei, não a eleição presidencial no Irã no final de junho – até porque o eleito será necessariamente alguém que precisa passar pelo crivo do aiatolá.

Em artigo para o jornal The Jerusalem Post, Jacob Nagel, ex-consultor
de segurança nacional do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e ex-chefe
interino do Conselho de Segurança Nacional de Israel, afirmou que “qualquer
presidente ou ministro das Relações Exteriores [o titular da pasta, Hossein
Amir-Abdollahian, também morreu no acidente] escolhido continuará no caminho
atual do Irã, e alguns podem até intensificar a abordagem nuclear e tentar
persuadir o líder supremo a promover formalmente o avanço do sistema de armas
[nucleares], o que não aconteceu até agora”.

“Os EUA e Israel devem atacar juntos a cabeça do polvo e os seus tentáculos. É hora de aplicar forte pressão financeira sobre a República Islâmica e não aliviar, como foi feito recentemente”, alertou Nagel.

Fonte: www.gazetadopovo.com.br

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