O México está enfrentando uma onda de ataques e violência política sem precedentes durante o atual ciclo eleitoral.
À medida que se aproxima das eleições gerais, marcadas para o dia 2 de junho, onde os mexicanos deverão escolher também seu novo presidente, o país já viu mais de 30 candidatos a diversos tipos de cargos públicos em disputa serem assassinados.
A violência contra políticos no país tem sido tão extrema que até mesmo membros do partido do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, o esquerdista MORENA (Movimento Regeneração Nacional), foram alvos. O Partido de Ação Nacional (PAN), principal representante da oposição, também sofreu com perdas significativas.
Segundo
o think tank Laboratorio Electoral, uma organização que monitora as
eleições em diversos países da América Latina, desde o início do atual ciclo
eleitoral, que ocorreu no dia 4 de junho de 2023, até está quarta-feira (1º),
houve no México 187 casos de violência eleitoral, incluindo 60 assassinatos de
pessoas envolvidas em campanhas políticas (sendo 31 candidatos a cargos
públicos), 13 sequestros, 33 tentativas de assassinato e 81 casos de ameaças de
morte.
Tais
números apontam para o atual ciclo eleitoral como um dos mais sangrentos da
história recente.
Os meses com o maior número de assassinatos registrados foram julho e outubro de 2023 e janeiro, fevereiro e março deste ano, conforme apontou o Laboratorio Electoral.
“O aumento de casos [assassinato de políticos] nos últimos três meses [janeiro, fevereiro e março] foi de 150%, o que mostra que estamos diante de uma espiral de violência que coincide com o término das pré-campanhas e o registro de candidaturas a nível local”, disse o think tank em um relatório divulgado em abril.
Entre os casos mais chocantes está o assassinato de Noe Ramos Ferretiz, que era o atual prefeito de Ciudad Mante, localizada no estado mexicano de Tamaulipas. Ramos Ferretiz era candidato à reeleição para o executivo municipal pelo PAN.
Segundo informações da mídia local, Ramos Ferretiz foi esfaqueado várias vezes por homens desconhecidos enquanto caminhava pelas ruas do sul de sua cidade, numa tentativa de angariar apoio para sua candidatura.
Conforme veiculou o site Braitbart, o candidato havia dado declarações para a mídia mexicana a respeito da expansão do Cartel do Golfo em Ciudad Mante. Ramos Ferretiz disse que o governo federal, liderado por López Obrador, “se recusavam a lidar” com esse tema e que o cartel “estava extorquindo agricultores locais com total impunidade”.
Outro
caso trágico foi o de Alberto Antonio García, candidato a prefeito da cidade de
San José Independencia, localizada no estado de Oaxaca, pelo partido de López
Obrador, o MORENA.
García e sua esposa, Agar Cancino Gómez, que é a atual prefeita, foram sequestrados por homens armados não identificados em abril. García foi torturado e assassinado, enquanto sua esposa, que também foi torturada, foi poupada da morte e encontrada com vida dias após o sequestro.
Os casos citados mostram que os ataques criminosos contra políticos não fazem discriminação entre partidos, afetando tanto políticos da base governista quanto da oposição.
O MORENA até o momento foi o partido político mais afetado pelos ataques criminosos e assassinatos, segundo o Laboratorio Electoral. O opositor PAN ficou em segundo como o partido mais atingindo pela violência.
O Laboratorio Electoral disse que este ciclo eleitoral já superou o número de candidatos assassinados durante a última eleição presidencial realizada em 2018. Segundo a organização, a tendência de aumento da violência associada às eleições no país é preocupante.
Comparando os dados, o Laboratorio Electoral mostrou que, enquanto em 2018 houve 43 assassinatos relacionados à violência eleitoral, dos quais 24 foram de pré-candidatos ou candidatos, neste o número de mortos já chegou a 31 e ainda corre o risco de aumentar.
Em
2021, durante as eleições legislativas, o Laboratorio Electoral disse que
ocorreram 88 assassinatos políticos no México, dos quais 30 foram relacionados
a pré-candidatos ou candidatos.
“O
fenômeno da violência eleitoral tem crescido no país e está se expandindo cada
vez mais. Não se trata apenas de uma questão de números, mas também de uma
expansão territorial: há mais áreas críticas, mais pontos com maior incidência
de violência e mais ataques”, disse Arturo Espinosa Silis, diretor do Laboratorio
Electoral, ao jornal El País.
Para tentar mitigar a violência, o Instituto Nacional Eleitoral (INE) do México, responsável por organizar as eleições, emitiu um protocolo durante este ciclo eleitoral para oferecer serviços de segurança aos candidatos que solicitarem.
Até o dia 25 de março, segundo o relatório do Laboratorio Electoral, foram solicitados 99 pedidos de proteção, dos quais 74 já foram aprovados (89,16%) e nenhum foi negado.