O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte de civis na Faixa de Gaza, afirmando ser desproporcional a resposta de Israel após os ataques do grupo terrorista Hamas em outubro do ano passado, e disse que a solução para a crise na região depende da criação de um Estado palestino livre. A declaração foi dada durante o discurso do presidente brasileiro neste sábado (17) na abertura da 37ª Cúpula Ordinária de Chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA), em Adis Abeba, capital da Etiópia.
Em sua fala, Lula insistiu que “não há solução militar” para o conflito.
“É o momento da política e da diplomacia. A solução para esta crise deve
avançar rapidamente através da criação de um Estado palestino livre e membro de
pleno direito das Nações Unidas”, enfatizou.
E destacou ainda a necessidade de reformas na Organização das Nações Unidas (ONU) para garantir uma representação mais equitativa, incluindo países da África e América Latina no Conselho de Segurança.Lula chegou à Etiópia, onde revisou as relações bilaterais com o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, na última quinta (15), após visita ao Egito. E neste sábado também se reuniu com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, para falar sobre a guerra na Faixa de Gaza.
O presidente brasileiro disse condenar a posição do Hamas no
ataque de Israel e reforçou a atitude do governo brasileiro de ter nominado o ocorrido
de “ato terrorista”, mas disse não haver explicações para o comportamento de
Israel em matar mulheres e crianças a pretexto de derrotar o Hamas.
“Ser humanista hoje implica condenar os ataques perpetrados pelo
Hamas contra civis israelenses, e demandar a liberação imediata de todos os
reféns. Ser humanista impõe igualmente o rechaço à resposta desproporcional de
Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza – em sua ampla maioria
mulheres e crianças – e provocou o deslocamento forçado de mais de 80% da
população”, disse em seu discurso.
Representatividade no G20
Durante a abertura da cúpula, Lula pediu ainda uma reorganização
imediata das instituições multilaterais internacionais com mais presença e
unidade dos países do sul global.
“A presença
da UA como membro pleno do G20 é importante, mas ainda é necessário incluir
mais países do continente nesse grupo”, enfatizou.
“Venho
reafirmar a parceria e o vínculo de nosso país e de nosso povo com este
continente irmão. As lutas da África têm muito em comum com os desafios do
Brasil. Nós, africanos e brasileiros, devemos traçar nossos próprios caminhos
na ordem internacional emergente”, acrescentou.
O petista
criticou ainda organizações internacionais, como o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial – que, afirmou, “muitas vezes agravam as
crises que afirmam estar resolvendo” e obrigam os países em desenvolvimento a
pagar suas dívidas em vez de investir em programas de educação ou saúde.
“Essas
instituições que foram criadas há muito tempo não nos ajudam mais. Pelo
contrário: estão engolindo nossos países. É por isso que temos uma agenda comum
para defender”, disse Lula.
Por conta
disso, Lula propôs à UA mais cooperação em setores como investigação agrícola,
educação, meio ambiente e ciência e tecnologia, bem como programas para frear o
desmatamento e a crise climática na Amazônia ou na bacia do rio Congo.
“Tudo o
que o Brasil tem para compartilhar, compartilharemos com o continente africano
porque temos uma grande dívida histórica pelos longos anos de escravidão. E a
única forma de pagar é com a solidariedade. Conte com o Brasil”, disse o
presidente no final do seu discurso.
A cúpula da UA vai até este domingo (18), reunindo dezenas de chefes de Estado e de Governo da África. (Com Agência Brasil e Agência EFE)