Na CPAC Brasil, aliados e apoiadores de Bolsonaro rechaçam sua substituição no pleito de 2026 | Política

Por Milkylenne Cardoso
10 Min Read

A eventual substituição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível, no pleito de 2026 foi rechaçada por aliados e apoiadores na CPAC Brasil (sigla em inglês para Conferência de Ação Política Conservadora), em Balneário Camboriú, Santa Catarina, neste sábado (6). O primeiro dia do evento, que continua neste domingo (7), foi marcado por coros de “volta, Bolsonaro”.

Presente ao evento, o ex-presidente disse que a composição do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está mudando, que chegou a um “ponto de inflexão e “não vai recuar” mesmo com o avanço de investigações contra ele. Bolsonaro também incentivou os apoiadores a votarem “com a razão, não com a emoção” em 2026 para que mudanças sejam feitas pelo Parlamento, “não pela canetada”. Nos discursos, um dos temas recorrentes foi a ideia de anistia para Bolsonaro.

questionamentoO encontro contou com a presença do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado como possível candidato no lugar de Bolsonaro. Aliados do ex-presidente e até apoiadores buscaram afastar a possibilidade de um substituto. O governador fez questão de ressaltar que o ex-presidente é a única liderança da direita.

Em junho do ano passado, o TSE declarou o ex-presidente inelegível por oito anos devido à prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. Ele não poderá disputar eleições até 2030.

Na ocasião, o plenário analisou uma ação do PDT. O ponto central do caso foi a reunião realizada por Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em julho de 2022, com embaixadores estrangeiros, na qual proferiu diversos ataques ao sistema eleitoral. O encontro foi transmitido ao vivo pela TV Brasil.

Neste sábado, Tarcísio participou de uma palestra ao lado de Jair Bolsonaro, da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), do senador Jorge Seif (PL-SC) e do também governador Jorginho Mello (SC).

Ao iniciar a fala do grupo, Nikolas Ferreira perguntou aos presentes: “Quem quer Bolsonaro de volta em 2026?”. Os participantes reagiram com gritos e acenos positivos. Depois, em outro momento, os participantes começaram a entoar: “Volta, Bolsonaro.”

Na chegada, Tarcísio surgiu acompanhado de Jorginho Mello, mas foi recepcionado na entrada por Bolsonaro, que fez questão de esperá-lo mesmo sob uma chuva leve. O ex-presidente brincou que Tarcísio é o melhor governador do País, enquanto Jorginho é o mais “bonito”.

Em certo momento, houve um comentário de um apoiador sobre o pleito de 2026, mas o restante do grupo reagiu gritando: “2026 é Bolsonaro.”

Jorginho também disse que está esperando Tarcísio mais vezes em Santa Catarina e depois emendou: “Mas ele [Bolsonaro] continua sendo o meu candidato [à presidência].”

Em outra palestra, o deputado Marcos Pollon (PL-MS) afirmou que Bolsonaro é o único líder da direita atualmente e que para ser considerado do grupo é preciso reconhecê-lo dessa forma. Esse tipo de comentário foi recorrente ao longo do dia.

O deputado estadual Gil Diniz (PL-SP) cobrou que governadores aliados se unam para reverter a inelegibilidade de Bolsonaro e para anistiar os presos pelo 8 de Janeiro em vez de se colocarem como potenciais sucessores do ex-presidente na eleição de 2026.

“Ultimamente, têm alguns governadores, figuras de expressão nacional, já lançando seus nomes à Presidência da República, mas o nosso pré-candidato à Presidência em 2026 se chama Jair Messias Bolsonaro”, disse Diniz.

“Estes que não usam a sua força política para que o presidente fique elegível para 2026, muita calma, vai devagar com andor”, emendou.

Tarcísio, por sua vez, afirmou que “a direita está unida e tem uma liderança, que é o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)”.

“O presidente [Bolsonaro] tem muito a contribuir. Nós esperamos muito do presidente Bolsonaro. Ele é uma fortaleza para nós, é a pessoa que recorremos quando temos um problema”, disse o governador.

Sobre a disputa municipal de 2024, Tarcísio disse que “esse ano é um ano de fazer compromisso, de dar a cara a tapa, porque esse é um ano que vai construir 2026”.

“Tenho um pedido a fazer para vocês, não vamos permitir que a narrativa se sobreponha à realidade. Nós aprendemos o caminho. A direita está aqui, está unida, e tem uma liderança que é o nosso presidente Bolsonaro”, reforçou.

O ex-presidente repetiu mais de uma vez que daria explicações em uma sabatina de duas horas à imprensa, mas no evento deste sábado não prestou qualquer esclarecimento.

“Imagine se no 8 de janeiro eu não tivesse saído do Brasil. Passei alguns meses fora, fui muito bem recebido. Voltamos para cá com todos os riscos, de toda ordem. Grande mídia, ao vivo, estou pronto para ser sabatinado de vocês. Vamos falar de baleias, de presentes, de golpe”, disse.

No dia 8 de janeiro de 2023, o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) foram invadidos por apoiadores de Bolsonaro, que depredaram as sedes dos três poderes. Houve abertura de processos, prisões e condenações.

Na quinta-feira (4), Bolsonaro e outras 11 pessoas foram indiciadas pela Polícia Federal pelo caso da venda de joias sauditas presenteadas ao governo brasileiro na gestão do ex-presidente. Os crimes apontados são de lavagem de dinheiro, peculato e associação criminosa. Bolsonaro não citou no sábado o processo diretamente.

O ex-presidente afirmou: “Apesar dos problemas, apesar de a Polícia Federal ter ido três vezes na minha casa, na casa dos meus filhos, hoje eu tenho trezentos e poucos processos, mas vale a pena. A gente não vai recuar”, reforçou.

Indagada pela imprensa sobre o inquérito, Michelle Bolsonaro respondeu: “Joias, que joias? Pergunte a quem está com elas.”

O ex-presidente também voltou a criticar a imprensa, tema recorrente nas falas dele: “À imprensa que me critica, aquela grande imprensa, estou à disposição para ser sabatinado durante duas horas ao vivo sobre qualquer coisa. Se acham que vão me desgastar, as mídias sociais nos deram a liberdade. Por isso, querem me censurar”, disse Bolsonaro.

Bolsonaro sempre optou, quando estava no governo e depois dele, por falar via mídias sociais e evitar a imprensa profissional para evitar questionamentos.

O deputado Bruno Engler (PL-MG) falou diretamente sobre o caso, dizendo que “inventam acusação maluca [caso da] joia, porque não têm o que falar [sobre Bolsonaro], para tentar tirar do jogo um homem sério”.

Engler também afirmou que os candidatos de 2024 precisam estar mobilizados para atuar como “cabos eleitorais” em 2026. “Em 2018, fizemos uma covardia com Bolsonaro, porque ele não tinha prefeituras e mal tinha o apoio de parlamentares”, pontuou.

Bolsonaro e o PL, seu partido, têm planos de formar maioria também no Senado no próximo pleito. A Casa tem poder, por exemplo, de analisar impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-presidente e seus aliados também buscam aprovar uma anistia a ele.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que organiza o evento, disse que o grupo voltará ao poder em 2026. O lema, de acordo com ele, é “não parar, não precipitar, não retroceder”.

Michelle Bolsonaro, que falou na sequência, afirmou que no Brasil “ainda há esperança”. “Porque a direita é uma direita que está formando líderes para conduzir o nosso país que é tão abençoado e apenas está sendo mal administrado”, declarou.

Governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL) fez críticas ao PT e disse que “se Deus quiser em 2026 nós vamos ter de novo Jair Bolsonaro como presidente do Brasil”.

O ex-ministro Onyx Lorenzoni, por sua vez, afirmou que os conservadores precisam ter “paciência, resistir e persistir”. “A esquerda tem 40 anos de atuação, já a direita tem sete anos”, alegou.

A CPAC se apresenta como o “maior evento conservador do mundo no Brasil”. A cúpula é organizada pelo Instituto Conservador Liberal (ICL-BR), comandado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro. Entre os patrocinadores, está a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso.

Neste domingo (7) está prevista a participação do presidente argentino Javier Milei, que desembarca no Brasil na noite deste sábado.
06/07/2024 22:56:53

Fonte: valor.globo.com

Share This Article