O Irã realiza nesta sexta-feira (5) o segundo turno da sua eleição presidencial, convocada após a morte do presidente Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero em maio, junto com outras sete pessoas.
Estão na disputa o radical Saeed Jalili e Masoud Pezeshkian, apontado como “reformista”, rótulo que não reflete a verdade.
Embora o Irã tenha eleições, o país está longe de ser uma democracia: os candidatos a qualquer cargo eletivo no país precisam ser aprovados pelo Conselho dos Guardiões, um colegiado de 12 membros, dos quais seis são “especialistas na lei islâmica” selecionados pelo líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.
Os demais são juristas eleitos pelo Parlamento iraniano entre nomes indicados pelo chefe do Judiciário, que também é nomeado pelo líder supremo. Ou seja, na prática, apenas nomes não vetados por Khamenei podem concorrer – dessa forma, Pezeshkian de forma alguma representará uma mudança de verdade na teocracia iraniana caso seja eleito.
Uma reportagem recente do site do canal International Iran, baseado em Londres e que produz conteúdo em persa, destacou que a candidatura dele pode ser uma estratégia do regime do Irã para vender a impressão de que há uma disputa política de verdade e assim estimular o comparecimento dos eleitores.
Por ora, não deu certo: no primeiro turno, realizado na última sexta-feira (28), apenas 39,9% dos eleitores foram às urnas, a participação mais baixa numa eleição presidencial desde que foi criada a República Islâmica do Irã, em 1979, evidenciando a apatia do eleitorado diante da crescente repressão do regime, da crise econômica e da perspectiva de que a guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza se alastre pelo Oriente Médio.
Masoud Pezeshkian, apesar de ser vendido como “moderado”, apoiou em 2010 um projeto de lei no Parlamento iraniano para estimular que mulheres que desrespeitam as regras do uso do hijab (o véu islâmico) fossem “envergonhadas” em público.
Em 2022, quando o regime islâmico reprimiu violentamente protestos após a morte de uma jovem que desafiou tais normas, Pezeshkian disse que as manifestações eram “atos orquestrados de agressão” influenciados pelos Estados Unidos e pela Europa.
Saeed Jalili, ao menos, é declaradamente radical. Ele serviu na Guarda Revolucionária do Irã e perdeu parte da perna direita ao ser atingido por estilhaços na guerra Irã-Iraque (1980-88).
Jalili é próximo de Khamenei, que o indicou para o Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, e foi vice-ministro das Relações Exteriores para a Europa e a América durante a presidência de Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013).
Durante o governo Ahmadinejad, foi o chefe do lado iraniano nas negociações do acordo nuclear com o Ocidente, mas apenas atrapalhou as conversações com bordões ideológicos e depois se opôs ao compromisso, assinado em 2015 e que seria rompido em 2018.
Com esses dois candidatos, e como Khamenei é quem manda de verdade no Irã, nada deve mudar no país dos aiatolás, independentemente de quem sair vitorioso nas urnas.