No dia 19 de abril, a Índia inicia sua eleição nacional, que
será realizada em várias fases e cujo resultado final será conhecido apenas no
começo de junho. Nesse pleito, o atual premiê, Narendra Modi, tentará obter seu
terceiro mandato.
Desde que chegou ao poder, em 2014, Modi, que nove anos antes havia tido sua entrada proibida nos Estados Unidos devido a violações à liberdade religiosa no estado que governava (Gujarate), fez vista grossa ou até estimulou a perseguição às minorias cristã e muçulmana da Índia, acuadas por violência e por leis que cerceiam sua fé.
Às vésperas da eleição nacional indiana, uma nova onda de
repressão está em curso, com foco na educação. Em março, a organização cristã
Portas Abertas divulgou um relatório que apontou que um grupo nacionalista
hindu do estado de Assam havia dado um ultimato para que institutos, igrejas e
escolas cristãos removessem elementos que remetessem à sua religião.
O grupo também exigiu que padres e freiras que trabalham em
escolas cristãs parassem de usar batinas e hábitos e de realizar práticas
religiosas nas instituições de ensino, como orações.
Segundo o relatório da Portas Abertas, escolas cristãs de
Assam estão pedindo proteção policial diante do aumento das ameaças.
Já os muçulmanos, igualmente perseguidos por nacionalistas
hindus, foram alvo de uma decisão judicial no mês passado em Uttar Pradesh, o
estado mais populoso da Índia.
Um tribunal local determinou que uma lei de 2004 que
regulamentava o funcionamento das madraças (escolas islâmicas) era inconstitucional
e que o governo estadual deveria transferir os alunos matriculados para escolas
seculares.
“Sendo a educação uma das principais atribuições do Estado,
este está obrigado a manter a laicidade no exercício das suas competências
neste domínio. Não pode proporcionar a educação de uma religião específica, das
suas instruções, prescrições e filosofias, nem criar sistemas educativos separados
para religiões distintas”, apontou a corte na decisão.
Segundo a agência Reuters, a decisão afetará 2,7 milhões de
estudantes e 10 mil professores em 25 mil madraças em Uttar Pradesh.
Um recurso contra a medida do tribunal foi apresentado na
Suprema Corte da Índia, e cristãos e muçulmanos apontam que o “secularismo” defendido
por grupos nacionalistas e juízes não é levado em conta quando instituições e
escolas hindus estão em foco. Ou seja, é mera fachada para perseguição
religiosa.
“É desanimador ver as condições do sistema educacional
atualmente. A escola não é um playground religioso”, disse um parceiro local da
Portas Abertas.
“Os radicais religiosos estão açafronizando [termo que designa a tentativa de implementar uma agenda nacionalista hindu na Índia] os programas de estudos, criticando as religiões minoritárias e favorecendo o hinduísmo no sistema educativo. As mentes dos estudantes estão sendo poluídas e mal direcionadas contra as religiões minoritárias. Uma onda de intolerância religiosa pode ser observada na maioria dos estados do nordeste indiano”, afirmou.