O Hospital da Criança e do Adolescente (Hecad) em Goiânia teve uma manhã movimentada nesta quarta-feira (7 de agosto). As gêmeas siamesas Lara e Larissa, de 10 meses, receberam alta médica e deixaram o hospital pela primeira vez. As irmãs estavam internadas na unidade sob os cuidados de uma equipe médica coordenada pelo cirurgião pediátrico Zacharias Calil, responsável pelo acompanhamento e tratamento de casos complexos de siameses.
Lara e Larissa pesam 3,9 kg cada uma e têm síndrome do pé torto congênito, além de compartilharem o tórax, abdômen e genitália. As irmãs também compartilham o pericárdio, que é a membrana que envolve o coração, mas cada uma tem um coração e um pulmão. Os aparelhos do sistema digestivo, reprodutivo e excretor também são compartilhados. O caso delas é considerado o mais complexo da carreira do cirurgião pediátrico Zacharias Calil.
Segundo o médico, as irmãs estarão em casa se recuperando com suporte domiciliar especializado. Zacharias Calil afirmou que as meninas têm várias outras má-formações associadas, principalmente na parte do sistema urinário. “E tem a parte cardíaca também, o que dificulta ainda mais. Mas hoje nós temos uma tecnologia mais avançada, e um hospital que possui todos os recursos necessários. No entanto, também depende muito do paciente e das condições que ele apresenta”, avaliou Zacharias Calil.
O cirurgião também ressaltou que Larissa é dependente de oxigênio e as duas se alimentam por sonda. “Durante os meses de internação, as gêmeas tiveram paradas cardíacas e complicações, mas venceram todas as adversidades. Agora é o momento delas irem para casa, ter mais conforto e melhor qualidade de vida, com alimentação especial, com oxigênio, e com os cuidados que vão ter ali juntamente com o que foi preparado pela equipe”, disse Zacharias Calil.
Sobre a cirurgia, Zacharias destacou que, no caso de Lara e Larissa, por terem várias outras malformações, o processo de separação será mais demorado. Nós não temos ainda uma previsão de quando a cirurgia poderá ser feita, porque elas não têm peso suficiente para isso. Precisamos de tempo para que elas ganhem peso e tenhamos condições de realizar a separação”, avaliou.
Kátia Cardoso é a mãe de Lara e Larissa e explicou que foi treinada pela equipe da UTI do Hecad e que todos a ajudaram. “Eu ia fazendo e aí aprendi tudo para cuidar delas. Só que agora estou sozinha em casa, então fico mais apreensiva e preocupada, mas vai dar certo, avaliou a mãe.
Kiraz e Aruna
No mesmo dia da da alta de Lara e Larissa, as gêmeas siamesas Kiraz e Aruna, naturais de Igaraçu do Tietê SP), passaram por uma importante consulta médica. Esta é a quarta consulta das meninas com Zacharias Calil.
Similar ao caso das gêmeas Lara e Larissa, as irmãs paulistas devem conseguir passar pela cirurgia de separação até o final deste ano, já que o desenvolvimento delas e o peso são o ideal para o procedimento.
Zacharias Calil detalhou que Kiraz e Aruna apresentam uma condição anatômica rara e complexa já que compartilham tórax, abdômen, bacia, genitália, intestino e fígado, além de uma terceira perna não funcional. Devido à gravidade e complexidade das áreas compartilhadas, o caso é considerado um dos mais desafiadores na especialidade do médico goiano.
De acordo com Zacharias Calil, o objetivo principal desta consulta foi avaliar o progresso das siamesas e planejar os próximos passos na preparação para a cirurgia de separação. “As meninas precisam ganhar peso significativo e, dentro de aproximadamente quatro meses, receberão expansores de pele para facilitar a futura operação”, avaliou o cirurgião. Durante a consulta, foram realizados exames de imagem para monitorar o desenvolvimento e preparar um planejamento mais detalhado para a separação.
O médico ressaltou o progresso das meninas e a importância do ganho de peso e dos expansores de pele, destacando ainda que elas estão em melhor estado que outros casos que tratou. “Elas têm um bom peso e não apresentam cardiopatia, o que é um fator positivo para a cirurgia futura”, afirmou Calil.
Biomodelos
Uma parte fundamental do planejamento é o uso de biomodelos, que têm se mostrado essenciais para o bom andamento do procedimento. Zacharias Calil destacou que os biomodelos são representações tridimensionais precisas do corpo das siamesas, criadas a partir de exames de imagem detalhados.
“Eles permitem que a equipe médica visualize com maior clareza a anatomia complexa das meninas e planeje a cirurgia de forma mais eficaz. Estamos utilizando também um novo aparelho de tomografia para uma reconstrução mais precisa das imagens”, explicou o médico.
A mãe das siamesas, Liliane Cristina, expressou uma combinação de apreensão e esperança em relação ao tratamento das filhas. “Eu nunca esperava que isso acontecesse, mas Deus sabe todas as coisas. O amor continua o mesmo, é incondicional,” afirmou Liliane. Ela também manifestou confiança no trabalho do Dr. Calil e na equipe médica que está cuidando das suas filhas.
Liliane, mãe das meninas, expressou sua gratidão e otimismo em relação ao futuro: “Estou esperançosa e creio que, até o final do ano, a cirurgia será realizada com sucesso. Agradeço a Deus e ao Dr. Calil por todo o esforço e dedicação.”
O pai das meninas também deixou uma mensagem de agradecimento: “Agradecemos ao Dr. Zacharias Calil e a toda a equipe do Hecad pelo respeito e profissionalismo. Esperamos que Kiraz e Aruna tenham uma vida saudável pela frente.” Kiraz e Aruna continuam sua jornada com o suporte da família e da equipe médica, aguardando os próximos passos em seu tratamento com otimismo e fé.