Era tarde em uma noite de dezembro de 2021 quando Joshua Junior Carter foi baleado na perna e no torso. Ele caiu em um terreno na cidade de Winston-Salem, no estado da Carolina do Norte. Ele não tinha um telefone para chamar por ajuda.
Ninguém ligou para o 911 [o equivalente americano ao número 190 do Brasil] para avisar sobre os tiros, em um momento em que o número de assassinatos na cidade estava próximo do recorde. Então, Carter permaneceu sozinho e sangrando.
Felizmente para Carter alguns meses antes o Departamento de Polícia de Winston-Salem começou a testar o ShotSpotter [Detector de Tiros, em tradução aproximada], um sistema de detecção acústica de tiros, em um trecho de 4,8 quilômetros quadrados da cidade.
Naquela noite, o policial Bradley Schaefer estava no local de outro tiroteio quando notou um alerta do ShotSpotter cerca de 40 minutos depois de ser emitido. Ele respondeu, subiu um barranco até o campo e ouviu Carter pedindo ajuda.
Schaefer chamou por reforços e aplicou um torniquete. Médicos disseram à polícia que aquilo salvou a vida de Carter.
“Se fosse um disparo normal de armas de fogo, em que alguém ligasse e dissesse ‘ouvi três tiros na minha área, mas não vi nada, não ouvi mais nada’, ele teria sangrado e morrido”, disse Schaefer em um vídeo divulgado pelo departamento.
Carter foi uma das pelo menos duas pessoas cujas vidas foram salvas por alertas do ShotSpotter durante o primeiro ano do teste em Winston-Salem, de acordo com a polícia. Um estudo independente do programa encontrou uma redução de 26% nos ataques na área coberta pelo ShotSpotter e tempos de resposta significativamente melhores para tiros disparados — os alertas do ShotSpotter foram despachados mais de cinco minutos mais rapidamente do que as chamadas dos residentes. Além disso, a polícia descobriu que quase 80% dos tiros na área do ShotSpotter nunca foram relatados pelos moradores.
O departamento de polícia está explorando oportunidades de financiamento para manter a tecnologia do ShotSpotter após o término de sua concessão de três anos, em agosto.
Os resultados de Winston-Salem não são incomuns entre as cidades que implementaram o ShotSpotter. Outros estudos descobriram que a tecnologia identifica tiros com poucos falsos positivos ou negativos, e que melhora os tempos de resposta a tiroteios.
Mais de 150 cidades agora usam o ShotSpotter. Várias notícias fornecem relatos de vítimas de tiroteio como Carter, cujas vidas foram salvas porque apenas o ShotSpotter alertou as autoridades sobre sua localização. Departamentos de polícia frequentemente afirmam que a tecnologia os ajudou a auxiliar ou salvar dezenas, e em alguns casos mais de 100 vidas.
Mas algumas cidades estão cortando laços com o ShotSpotter, em parte por causa de reclamações de ativistas antipolícia que são francos sobre sua intenção de degradar a eficácia policial. Para ganhar apoio para sua causa, esses ativistas estão fazendo uso de uma cartilha muito utilizada que se baseia fortemente nas tensões raciais e preocupações aparentemente exageradas sobre tecnologia distópica de espionagem.
O prefeito de extrema-esquerda de Chicago, Brandon Johnson, ganhou as manchetes em fevereiro por cancelar o ShotSpotter, em parte para agradar os ativistas progressistas que o ajudaram a se eleger no ano passado. Mas ele está adiando a remoção da ferramenta até setembro, após a cidade sediar a Convenção Nacional Democrata — Johnson disse que está dando à polícia tempo para encerrar seu uso.
Em Chicago, muitas das vozes mais eloquentes contra o ShotSpotter parecem ser de ativistas de esquerda, organizadores e “jornalistas” que anteriormente faziam parte do movimento para retirar fundos do Departamento de Polícia e pela abolição da polícia, que cresceu durante os distúrbios de 2020.
Líderes de organizações contra a violência em algumas das comunidades de Chicago que foram mais atingidas pela violência armada disseram à National Review que muitos dos principais ativistas anti-ShotSpotter não são de seus bairros.
“As pessoas querem o ShotSpotter aqui”, diz Darryl Smith, chefe da People Educated Against Crime [Pessoas Educadas Contra o Crime] em Englewood, um bairro que luta com altas taxas de pobreza e violência.
Nacionalmente, a organização sem fins lucrativos antipolícia Campaign Zero lançou uma campanha anti-ShotSpotter há alguns anos pedindo às cidades para pararem de usar a ferramenta. A Campaign Zero busca um “mundo além da polícia” e seus objetivos incluem diminuir o poder da polícia.
Alguns oponentes do ShotSpotter afirmam que a tecnologia é muito cara e que confunde outros barulhos altos — fogos de artifício, portas batendo — com tiros, uma alegação que a empresa por trás da ferramenta, SoundThinking, nega veementemente.
Mas os ativistas anti-ShotSpotter mais ferrenhos vão além de simplesmente questionar o retorno sobre o investimento: Eles afirmam que a tecnologia em si é “racista” e “malévola”, que é implantada com maior frequência em comunidades onde moram minorias, para espionar os moradores, e que o ShotSpotter é perigoso porque envia policiais armados para estes bairros.
São alguns dos mesmos argumentos que os ativistas antipolícia têm usado para resistir a uma variedade de tecnologias de combate ao crime que foram introduzidas nos últimos anos, de drones e leitores de placas a robôs projetados para manter humanos fora de situações perigosas.
Quando o Departamento de Polícia de Los Angeles começou a usar drones em situações com reféns e para rastrear veículos envolvidos em perseguições em alta velocidade há vários anos, opositores argumentaram que eram ferramentas orwellianas que seriam implantadas de forma desproporcional em bairros negros.
Em 2020, quando o Departamento de Polícia de Nova York implantou um cachorro robô que poderia ser enviado para lugares perigosos sem arriscar a vida de um policial, os críticos o compararam a um “drone de vigilância distópico” e “emblemático de quão excessivamente agressiva a polícia pode ser ao lidar com comunidades pobres”, de acordo com uma reportagem do New York Times.
“As pessoas tinham descoberto os slogans e a linguagem para de alguma forma fazer isso ser maligno”, disse John Miller, comissário adjunto do departamento para inteligência e contraterrorismo, ao Times em 2021.
Rafael Mangual, pesquisador do Instituto Manhattan em policiamento e segurança pública, diz que os ativistas antipolícia aprenderam que tipo de retórica é eficaz para influenciar os formuladores de políticas.
“Se você pode acusar uma tecnologia de ser racista, mesmo que ela não seja um ser consciente, você tem mais chances de conseguir o que quer”, diz. “Vimos isso em todos os aspectos do debate sobre a reforma da justiça criminal.”
Paul Vallas, um democrata de Chicago defensor da lei e da ordem que concorreu para prefeito contra Johnson no ano passado e agora pesquisa para o Instituto de Política do Illinois, argumenta que o ShotSpotter é mais preciso do que o número 911 para rastrear e responder a tiros na cidade.
O ShotSpotter identifica com precisão a localização dos tiros através de triangulação, utilizando uma série de microfones em sua área de cobertura. Especialistas acústicos treinados revisam o áudio antes que um alerta seja enviado, geralmente em menos de um minuto. O sistema tem uma taxa de precisão de mais de 97% para “detectar, classificar e publicar incidentes de tiros”, segundo uma auditoria.
Depois de testar a tecnologia, Chicago concordou com um contrato de três anos e US$ 33 milhões [equivalente a R$ 166 milhões na cotação atual] em 2018 para cobrir doze distritos e mais de 160 quilômetros. Em seguida, estendeu o contrato. Vallas acredita que foi um investimento que valeu a pena.
Os opositores do ShotSpotter, são “ideologicamente enviesados”, “veem criminosos armados como vítimas” e estão “tentando degradar sistematicamente a capacidade do departamento de polícia de se envolver em policiamento proativo”, escreveu Vallas recentemente. E, de acordo com ele, aqueles que apoiam a retirada de fundos da polícia “esperam colher os benefícios financeiros de transferir dinheiro do orçamento da polícia para seus próprios programas”.
“Em algumas comunidades, metade dos homens está em alguma fase do sistema de justiça criminal”, diz. “Defender criminosos se tornou um grande negócio.”
“Eu não vou chamar a polícia”
No início de fevereiro, antes de Johnson cancelar o ShotSpotter em Chicago, cerca de 150 pessoas compareceram a uma reunião comunitária na Igreja Católica St. Sabina na zona Sul da cidade para discutir a tecnologia. A reunião lançou luz sobre os dois lados do debate.
De um lado, estavam as vítimas locais e sobreviventes da violência armada que argumentavam apaixonadamente a favor da manutenção do ShotSpotter. Remis Herrera, cujo irmão foi baleado ao voltar do trabalho em outubro passado, implorou à cidade para manter a tecnologia, argumentando que vale a pena o custo e que quando se trata de salvar vítimas de tiros, segundos importam.
“Eu não entendo como podemos quantificar a vida de uma pessoa”, ela disse entre lágrimas. “Coloque-se em um lugar onde, como cidadão cumpridor da lei, você se torna vítima da violência armada e ninguém vem te ajudar, ninguém vem em seu socorro. Eu quero que você quantifique o valor disso. Quanto vale a sua vida? Quanto vale a vida de um membro da sua família?”
Do outro lado estavam os ativistas que afirmavam que o ShotSpotter era “incrivelmente perigoso”, citando o caso de Adam Toledo, um jovem de 13 anos que foi baleado e morto por um policial que respondeu a um alerta do ShotSpotter (o adolescente estava armado quando foi perseguido por um policial). Uma mulher, que se identificou como jornalista local, alegou que as mentes dos policiais estão “envenenadas contra a humanidade” e que veem os moradores como “combatentes inimigos”.
Nathan Palmer, um ativista anti-ShotSpotter que participou do painel de St. Sabina, pediu soluções comunitárias para a violência armada. Palmer foi direto sobre ajudar criminosos a evitar consequências legais por seus crimes: “Eu não chamo a polícia”, disse Palmer. “Eu acabei de ser roubado. Eu não estou chamando a polícia para alguns estudantes do ensino médio que me roubam, cara. Eu não quero eles na prisão.”
Smith, o ativista contra a violência de Englewood que também estava no painel, disse que, na maior parte, a multidão anti-ShotSpotter não morava na região.
“Eles definitivamente não eram da nossa comunidade”, diz. “Eles eram do lado norte da cidade, eram pessoas brancas que não moram aqui, que não passam pelas coisas que passamos aqui, que não entendem nossas dinâmicas sobre como temos que viver todos os dias, ouvindo tiros, especialmente, como eu, vendo jovens com seus cérebros explodidos na rua.”
Maria Pike, outra defensora contra a violência na área de Englewood que apoia a manutenção do ShotSpotter, diz que a comunidade não está dividida sobre a tecnologia. Pike, cujo filho foi morto a tiros em 2012, chama os opositores do ShotSpotter de “ativistas progressistas de sofá” que se basearam no tiroteio de Adam Toledo e em falsas alegações de racismo para se livrar do ShotSpotter.
“O ShotSpotter não é racista”, diz ela. “O ShotSpotter é apenas uma ferramenta, pelo amor de Deus.”
A maioria dos painelistas e líderes da cidade que falaram na reunião da St. Sabina apoiaram a manutenção do ShotSpotter, levando a reações intempestivas dos ativistas anti-ShotSpotter, que chamaram a reunião de “propaganda pró-polícia”. Pelo menos um dos ativistas foi retirado da reunião.
Uma história de três cidades
Dennis Mares, professor de justiça criminal na Southern Illinois University Edwardsville, tem pesquisado tecnologia de detecção de tiros acústicos como o ShotSpotter há mais de uma década. Em 2019, ele e um colega publicaram os resultados de um estudo que conduziram em St. Louis, sugerindo que o ShotSpotter pode não valer o custo.
O estudo reconheceu que o ShotSpotter faz o que afirma: “É difícil negar que os sistemas geralmente funcionam como pretendido — eles fazem um ótimo trabalho capturando tiros em ambientes externos.”
Mas o estudo teve outros resultados, nos quais os ativistas anti-ShotSpotter se concentraram: a tecnologia leva a um “aumento substancial no número total de chamadas de ‘tiros disparados'”, consumindo o tempo dos policiais, mas não melhorando a resolução dos casos. “Delegacias em locais perigosos provavelmente experimentarão aumentos substanciais em seu volume de chamadas com muito pouco a mostrar, a um custo que pode levar os contribuintes a questionarem a lógica por trás do gasto”, concluiu o estudo.
Os ativistas anti-ShotSpotter continuam a apontar para esse estudo de St. Louis para argumentar que a tecnologia regularmente envia policiais em buscas sem sucesso e pouco faz para tornar os bairros mais seguros. Um relatório do Escritório do Inspetor Geral de Chicago em 2021 encontrou resultados semelhantes, que a maioria dos alertas do ShotSpotter não leva a evidências de crimes relacionados a armas ou a interrogatórios de suspeitos.
Mas esses ativistas anti-ShotSpotter tendem a ignorar dois estudos seguintes que Mares conduziu em Cincinnati e em Winston-Salem, Carolina do Norte, que chegaram a conclusões marcadamente diferentes.
O estudo de Cincinnati constatou que a violência armada diminuiu cerca de 46% na área em que o ShotSpotter foi implementado. Em Winston-Salem, os pesquisadores encontraram uma “redução nos crimes violentos com armas de fogo” e uma queda de 26% nos ataques agravados na área do ShotSpotter, enquanto os ataques agravados aumentaram em outras áreas. O ShotSpotter também levou a respostas mais rápidas da polícia aos tiros e “significativamente maior tempo de investigação”.
Uma análise de custo-benefício descobriu que a ferramenta pode economizar à comunidade de Winston-Salem de US$ 5 milhões a US$ 8 milhões anualmente. Com um custo médio de implementação entre US$ 230.000 e US$ 350.000, “isso indica um retorno de $15–25 para cada dólar gasto”, concluiu a análise.
Mares reconhece que estava cético quanto à eficácia do ShotSpotter após sua pesquisa em St. Louis, mas os estudos de acompanhamento “definitivamente mudaram minha opinião”, diz.
Ele afirma que há razões pelas quais Cincinnati e Winston-Salem tiveram melhores resultados.
Ao contrário de St. Louis, esses departamentos de polícia transformaram em prioridade a resposta às chamadas do ShotSpotter, exigiram que os policiais que respondiam às chamadas saíssem de seus veículos para procurar evidências — cartuchos de munição e armas descartadas — e, se não encontrassem nada, voltassem durante o dia para procurar novamente.
Mares diz também que há um benefício investigativo em receber coordenadas precisas de tiros, o que normalmente não acontece quando os vizinhos relatam ter ouvido tiros em algum lugar.
Ele contestou a ideia de que a polícia está usando o ShotSpotter como uma ferramenta de espionagem. Ele ouviu o áudio dos alertas do ShotSpotter e é “extremamente raro” ouvir alguém falando, afirma.
“A única coisa que realmente ouvi são pessoas gritando quando são baleadas ou pessoas com medo quando ouvem muitos tiros”, diz, acrescentando que um clipe de áudio que ouviu, de uma criança pequena gritando de terror por causa de dezenas de tiros não relatados, o ajudou a convencer de que é importante para a polícia responder a todos os tiros.
Em alguns bairros, menos de uma em cada dez ocorrências de tiros é relatada, disse ele.
“Isso não é apenas medo da polícia ou ressentimento em relação à polícia, também é medo de ser visto como um informante”, diz Mares. “O que os ativistas não querem ver, eu acho, é que existem consequências negativas reais por cooperar com a polícia em algumas comunidades; a detecção de tiros afasta essa preocupação em certa medida.”
Responder mais rápido, salvar vidas
Embora Mares e outros tenham estudado como o ShotSpotter e outros sistemas de detecção de tiros afetam investigações criminais e taxas de criminalidade, Vallas, ex-candidato a prefeito de Chicago, argumenta que, acima de tudo, são ferramentas de salvamento de vidas.
O Departamento de Polícia de Chicago relatou que o ShotSpotter ajudou a salvar pelo menos 125 vidas na cidade. “É incontestável que o ShotSpotter salva vidas”, diz Vallas.
Durante a reunião comunitária de St. Sabina, Ralph Clark, CEO da SoundThinking, empresa controladora do ShotSpotter, disse que a tecnologia “realmente se trata de salvar vidas”. Ele mencionou a história de um amigo em Oakland, o capitão da polícia Ersie Joyner, que foi baleado 22 vezes durante um roubo em pleno dia em um posto de gasolina e que está vivo hoje por causa “da graça de Deus, de um alerta do ShotSpotter e de um cirurgião de trauma muito habilidoso.” Testemunhas filmaram o tiroteio em vez de ligar para a polícia.
Vallas e outros defensores do ShotSpotter reconhecem que a tecnologia é implantada predominantemente em comunidades onde moram negros. Isso porque essas comunidades sofrem mais com a violência armada de Chicago, afirma. Isso não é racismo; é realidade.
“Definitivamente está focando recursos policiais em áreas onde crimes graves podem estar ocorrendo”, disse Vallas. “Olha, a maioria das pessoas pesquisadas em comunidades onde moram minorias, particularmente na comunidade negra, não acredita que haja policiais suficientes. Todos estão reclamando. Você fala com os conselheiros negros, todos estão pedindo mais policiais.”
Em um momento em que o Departamento de Polícia de Chicago está lutando para recrutar e reter policiais, ter tecnologia como o ShotSpotter, que ajuda a polícia a priorizar efetivamente suas respostas, é fundamental, diz Vallas. Ele não acredita que o ShotSpotter tenha sobrecarregado a polícia local. Se tivesse, diz, os líderes policiais estariam reclamando disso — e não estão.
“Obviamente sou a favor de tecnologia que nos ajude a chegar a um local mais rápido e nos ajude a salvar vidas”, disse o superintendente da polícia de Chicago, Larry Snelling, sobre o ShotSpotter em fevereiro.
Mangual, do Instituto Manhattan, reconhece que departamentos de polícia com pouco pessoal recebendo mais chamadas de tiros devido à tecnologia ShotSpotter poderiam enfrentar um problema de restrição de recursos.
“E então se torna uma questão de, ok, dada essa questão, qual é a melhor solução: economizar dinheiro eliminando o ShotSpotter e nunca obter quaisquer benefícios dessa tecnologia no futuro, ou se concentrar e fazer os investimentos necessários para que possamos realmente utilizá-la ao máximo?”, questiona Mangual.
Precisa haver limites sobre como e quando a tecnologia policial pode ser utilizada, diz ele. Esses limites serão estabelecidos, em última análise, pelos departamentos de polícias, pelos legisladores e pela justiça.
Ele observou que muitas das mesmas reclamações que os críticos têm com o ShotSpotter — que é caro, que há alguns falsos chamados, que envia desproporcionalmente a polícia para comunidades minoritárias — poderiam ser igualmente aplicadas ao sistema 911.
“Estamos eliminando o 911? Alguém está propondo isso?” Mangual pergunta. “O que o 911 fez foi permitir uma comunicação mais direta da demanda por serviços policiais diretamente da comunidade por meio de despachantes. E isso revolucionou a polícia.”
“O ShotSpotter”, afirma, “faz a mesma coisa.”
‘Um passo crítico atrás’
Por quase oito anos, o pastor Donovan Price passou seus dias e noites respondendo a tiroteios em Chicago. Ele vai para defender as vítimas e cuidar dos membros da família que chegam ao local. “É algo difícil”, disse ele, “mas alguém tem que fazer isso.”
Os alertas do ShotSpotter, que ele recebe de segunda mão, estão entre as ferramentas que ele utiliza para saber quando e onde responder. Ele tem como objetivo responder a um tiroteio em 20 minutos. Sem acesso a esses alertas do ShotSpotter, disse ele, estaria “um pouco cego”.
“É a primeira peça do quebra-cabeça, a peça inicial do quebra-cabeça que me avisa que devo responder”, diz Price.
Ele reconhece que o ShotSpotter é implantado mais nos bairros negros de Chicago. Para algumas vítimas de tiroteio, a tecnologia é sua única chance de obter ajuda, afirma.
Price também diz que os ativistas anti-ShotSpotter tendem a vir de outros bairros.
“Nas audiências a que fui e as pessoas que vi na TV que são contra isso, a maior parte delas não é dos bairros de que estamos falando”, diz. “Você vê multidões de pessoas dos lugares supostamente [sobre-policiados] protestando contra isso? Não, você não vê. Raramente os vê, ou eles têm pouca ou nenhuma opinião sobre isso. As pessoas que estão protestando estão protestando em nome de outra pessoa.”
Price afirma que os ativistas anti-polícia têm encorajado criminosos.
“Você quase teria que dizer que os elementos que falam contra o ShotSpotter são a razão pela qual precisamos do ShotSpotter, até certo ponto”, afirma.
Price também não está convencido de que o ShotSpotter desaparecerá em setembro. Se líderes suficientes da cidade se opuserem ao plano de Johnson, “então poderia haver uma mudança na situação”, afirma. Ele riu da justificativa de Johnson para se livrar da tecnologia.
“É uma ferramenta que não está funcionando para Chicago, então vamos mantê-la depois da Convenção Nacional Democrata para que ela possa funcionar para Chicago”, afirma. “Não a use para os cidadãos comuns, mas se tivermos alguns VIPs, precisamos usar para eles. Não valemos a pena.”
Se a cidade eliminar o ShotSpotter, Price disse que ainda responderá a tiroteios.
“Isso apenas me colocará um passo atrás. Isso colocará a cidade um passo atrás. Isso colocará o departamento de polícia um passo atrás”, diz. “Infelizmente, haverá pessoas baleadas em algum lugar, um passo crítico atrás. E, como diz o ditado, haverá sangue.”