Em giro na Alemanha, Moro critica condenação de Dallagnol

Por Milkylenne Cardoso
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O ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato a presidente da República pelo Podemos, cumpre nesta semana uma intensa agenda de encontros com políticos e empresários na Alemanha, para apresentar seu programa de governo, tentar se diferenciar do governo Jair Bolsonaro e sinalizar que tem inserção internacional.

Nesta quarta-feira (23/03), ele divulgou em seu Twitter um vídeo em Berlim, em frente ao Bundestag (Parlamento alemão), e ressaltou que “segue acompanhando a situação no Brasil”. Ele chamou de “um absurdo” a decisão do Superior Tribunal de Justiça do dia anterior que condenou o ex-procurador e ex-coordenador da operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, a pagar R$ 75 mil em indenização por danos morais ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva devido a um “PowerPoint” apresentado em uma entrevista coletiva em 2016.

“A gente tem visto fatos assustadores. O país está doente. (…) O procurador que se sacrificou, se dedicou, para combater aquela roubalheira e colocar os criminosos na cadeia, sendo condenado a pagar danos morais. Isso é um absurdo, isso é o país virado do avesso, isso é querer transformar o certo em errado e o errado em certo. Nós não vamos deixar o Brasil virar uma terra sem lei e um país de bandido”, afirmou o ex-juiz.

Moro também comentou as denúncias que apontam que o Ministério da Educação teria sido capturado por pastores evangélicos que agem como lobistas e controlam acesso a verbas em troca de propina. “Dinheiro de prefeitura é pra educação. Aliás, o Ministério da Educação até hoje não tem um plano de recuperação das aulas perdidas na pandemia. E agora vem essa história de propina em verba liberada. Isso tem que ser investigado pela Polícia Federal e pela PGR [Procuradoria-Geral da República] com rigor.”

O tour alemão de Moro começou na segunda-feira (21/03), em Hamburgo, e termina na sexta-feira em Berlim. Também participa da viagem o deputado estadual Heni Ozi Cukier, pré-candidato do Podemos ao Senado por São Paulo.

Em uma palestra na Association for Latin America (LAV) na terça-feira, o ex-juiz rebateu críticas de que a Operação Lava Jato teria criminalizado a política. “Ninguém conseguia explicar por que o pagamento de propina tinha que fazer parte da política”, disse.

Em 2019, o site The Intercept Brasil revelou diálogos que levantaram suspeitas de conluio entre Moro e o Ministério Público Federal (MPF) na condução de inquéritos e ações penais contra réus como o ex-presidente Lula, político de maior renome alvo da Lava Jato. Em 2021, o plenário do Supremo Tribunal Federal confirmou que Moro era parcial para julgar o petista, o que levou à anulação das condenações contra Lula.

Na cidade portuária alemã, Moro também visitou o Centro de Inteligência Artificial da cidade, participou de um jantar promovido pelo Conselho de Economia Internacional da Alemanha (IWR) e pelo Business Club Hamburg (BHC) e reuniu-se com membros da BVMW, associação das empresas alemães de médio porte.

Defesa do acordo Mercosul-UE

Moro relatou ter discutido com os empresários em Hamburgo o tratado de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia, assinado em 2019 após duas décadas de negociação. A ratificação do texto pelo bloco está travada por interesses conflitantes e em represália à política ambiental do governo Bolsonaro – do qual Moro foi ministro da Justiça por 16 meses e com o qual rompeu em abril de 2020, acusando o presidente de interferência política na Polícia Federal.

Em um vídeo divulgado no Twitter na terça-feira, Moro defendeu a abertura comercial do Brasil e disse que, se eleito, combateria o desmatamento ilegal na Amazônia e tentaria destravar o acordo Mercosul-UE.

“A ideia é abertura. Tem que abrir o Brasil para o mundo, para inserir o Brasil nas cadeias produtivas”, disse o pré-candidato. “É muito fácil resolver esse problema da imagem do Brasil lá fora, é uma mudança de discurso e o combate ao desmatamento ilegal. A gente defendeu a nossa agropecuária, porque ela não tem nada a ver com o desmatamento lá na Amazônia, mas assumiu o compromisso. Temos realmente que resolver essa vulnerabilidade para que a gente possa avançar com esse tratado.”

Nos encontros, Moro também criticou a posição dúbia do governo Bolsonaro em relação à invasão russa da Ucrânia, que definiu como “erro de posicionamento inequívoco”, assim como a visita oficial de Bolsonaro ao presidente russo, Vladimir Putin, pouco antes do início da guerra.

Na quarta-feira, em um vídeo gravado a partir de um trem entre Hamburgo e Berlim e divulgado no Instagram do ex-juiz, Moro e Cukier relataram ter ouvido reclamações de empresários sobre a dificuldade de enviar produtos exportados ao Brasil e da imprevisibilidade sobre os trâmites alfandegário no país. Cukier relacionou o episódio a uma “falta do Estado de direito” no Brasil, e Moro usou o exemplo para dizer que Brasil precisa de mais “segurança jurídica” para “voltar a crescer”.

Em Berlim, encontros com políticos

Na capital alemã, Moro reuniu-se com líderes de três partidos no Bundestag ao longo desta quarta-feira: Gregor Gysi, líder da legenda A Esquerda; Anton Gerhard, do Partido Verde, que compõe a coalizão de governo comandada pelo chanceler federal Olaf Scholz; e Peter Ramsauer, representante da União Social Cristã (CSU) e membro do Bundestag desde 1990. À noite participa de um jantar na Confederação Nacional da Indústria alemã (BDI).

Segundo sua assessoria, Moro reúne-se na quinta-feira com embaixadores e secretários do Ministério do Exterior da Alemanha, e na quinta e na sexta se encontra com mais políticos alemães. Na sexta à noite, embarca de volta para o Brasil.

Ciro critica viagem

Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência da República, que disputa contra Moro os eleitores que não querem votar em Lula ou Bolsonaro, criticou a viagem de seu adversário à Alemanha, que considerou “cascateira, desprestigiada, anônima e infrutífera”.

Em mensagem publicada na terça-feira no Twitter, Ciro lembrou que o deputado federal Kim Kataguiri, também do Podemos e próximo do ex-juiz, fez em fevereiro críticas à Alemanha por o país ter criminalizado o nazismo. Na época, Moro disse que Kataguiri havia cometido uma “gafe verbal” e um “erro brutal”.

“Ele [Moro] deveria ir meditar no Holocaust-Mahnmal (Memorial do Holocausto), em Berlim, local de arrependimento e alerta”, escreveu Ciro.

Fonte: Dw Brasil.

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