“Corta o telefone dessa vereadora!”, dispara presidente da Câmara de Aparecida em debate sobre machismo

Por Milkylenne Cardoso
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Foto: Reprodução

A vereadora Camila Rosa (PSD) abandonou a sessão desta 4ª feira (2) na Câmara de Aparecida após ter o seu microfone cortado pelo presidente da Casa, André Fortaleza (MDB), durante um debate sobre machismo e cotas para mulheres na política.

O assunto foi trazido à tona por André, que usou a palavra para comentar sobre uma postagem nas redes sociais da vereadora.

“Não sou machista. Sou contra fake news. Quando a senhora apresentou projetos, foram aprovados aqui. Não fui preconceituoso ou machista por dizer que sou contra cotas. Porque, quando uma mulher vai para um partido, o fundo é dobrado?”, iniciou André.

Veja no vídeo o momento da discussão:

Postagem no Instagram deu início a discussão entre André e Camila

No post, Camila havia escrito que não tolerará preconceitos e lutará “até o fim pela igualdade e o respeito”, em referência a uma discussão travada na Câmara na 3ª (1), 1ª sessão após o fim do recesso parlamentar.

Sentindo-se pessoalmente ofendido pela postagem e pelos comentários nela contidos, André resolveu defender seus argumentos novamente no plenário.

Concedida a palavra a ela, Camila começou a formular uma réplica, quando foi interrompida.

“Eu não disse que o senhor é contra cotas. Agora, se o senhor entendeu isso, a carapuça pode ter servido. Se o senhor sempre fala de caráter, de transparência, parece que o senhor tem algum problema com isso”, disse.

 

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Fortaleza cortou microfone de Camila

Nesse momento, Fortaleza interrompeu a fala da colega e começou a cobrar respeito, ordenando ainda que o microfone dela fosse cortado.

“Não, vereadora, quem vai me respeitar é a senhora. Eu sou o presidente e a senhora vai me respeitar. Corta o microfone dessa vereadora! A senhora não vai fazer circo aqui”, bradou.

Após alguns instantes, nos quais a vereadora ficou impedida de falar, o presidente decidiu conceder-lhe a palavra novamente.

“Eu vou voltar a palavra para a vereadora Camila. A partir do momento que ela me respeitar, ela pode falar o que quiser. Agora, gritar comigo e falar de carapuça não”, advertiu.

Em lágrimas, Camila se retirou da sessão

Na sequência, Camila usou o momento para defender a participação feminina na política e a luta a favor do pluralismo democrático.

“É isso que fazem com as mulheres na política. É por isso que a gente precisa procurar os nossos direitos. A política, no início, era um espaço machista, sim, onde só podiam exercer poder homens brancos e ricos. Mas agora nós precisamos de pluralidade nos espaços de poder, mulheres, índios e pessoas da comunidade LGBT. Eu não disse que o senhor era contra cotas, é o senhor que está dizendo isso”, pontuou.

Por fim, após receber palavras de apoio do vereador Willian Panda (PSB), Camila pediu licença e deixou a sessão, em lágrimas: “Fiquei muito emocionada e chateada e peço licença para me retirar.”

Nota do presidente

Por meio de nota, André Fortaleza afirmou que não quis “atingir pessoalmente” Camila Rosa e que sempre defendeu as mulheres. Leia:

“Sobre o debate ocorrido durante sessão ordinária desta quarta-feira, 02, esclareço que em nenhum momento procurei atingir pessoalmente a vereadora Camila Rosa, mas reforcei com veemência que sempre defendi a classe das mulheres, apoiando todos os projetos voltados ao tema. Sempre fui a favor da luta delas e que demonstrei com atitudes e não apenas com discurso. Antes do meu mandato, a Câmara não tinha nenhuma mulher em cargos de chefia e hoje possui quatro. Pela primeira vez na história da Câmara, por escolha minha na presidência, a Mesa Diretora tem em sua composição duas mulheres (vereadoras Valéria Pettersen e Camila Rosa). Criei um instituto que é todo composto por mulheres. Eu apenas afirmei que sou contra cotas, que os direitos e deveres tem que ser iguais, e não que seja contra alguma classe específica, porém tive minha fala distorcida, baseada num sensacionalismo, pois para mim, a mulher deve ser tratada com respeito e igualdade, e não por privilégio de gênero.”

Informações: Folha Z

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