Os resultados eleitorais negativos dos aliados de Emmanuel Macron no Parlamento Europeu – conquistaram apenas 13 assentos – levaram o presidente a tomar uma medida drástica – e arriscada – de dissolver a Assembleia Nacional, antecipando as eleições do país para este mês.
A justificativa de Macron foi que a França precisa de “uma maioria clara em serenidade e harmonia”, declaração presente em um discurso logo após a primeira apuração apontar uma vantagem da direita, liderada por Marine Le Pen e Jordan Bardella, no pleito.
No cenário ideal do líder francês, sua presidência beneficiaria a esquerda e enfraqueceria a direita durante as tratativas com os partidos para as eleições parlamentares. No entanto, essa proposta de realidade pode não ser concretizada como ele espera.
Nesta sexta-feira (14), partidos de esquerda que fazem parte da “Frente Popular” anunciaram a intenção de reformular a aliança sem o mandatário francês. O novo acordo será formado pelo Partido Socialista, principal força da centro-esquerda francesa; pelo França Insubmissa; Partido Verde; e pelo Partido Comunista.
A nova aliança, anunciada nesta sexta, rompe com as políticas criadas pelo governo Macron, incluindo as polêmicas reformas de imigração e pensões.
Na terça-feira (11), o líder dos Republicanos (LR, na sigla em francês), partido de centro-direita da França, já havia proposto uma aliança inesperada com o partido de direita nacionalista Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, para as eleições parlamentares antecipadas no país, que serão realizadas em 30 de junho e 7 de julho.
Se o RN alcançar uma maioria absoluta no pleito, Emmanuel Macron será forçado a nomear como primeiro-ministro um de seus líderes, possivelmente Jordan Bardella – o presidente do RN que guiou a direita até a vitória nas eleições do Parlamento Europeu. Um dia depois dos resultados provisórios serem publicados, o vice-presidente do partido, Sébastien Chenu, anunciou a escolha de Bardella como candidato ao cargo de premiê, com a vitória da direita.
Constitucionalmente, o mandatário francês não tem essa obrigação, mas se recuar nesse sentido, é muito provável que o futuro governo nomeado utilize o voto de censura para bloquear sua governabilidade.
O RN detém atualmente 88 assentos na Assembleia Nacional e precisaria de aumentar esse total para 289 para deter a maioria absoluta do Parlamento.
Enquanto isso, nos últimos dois anos, Macron tem enfrentado uma ameaça constante com a perda de apoio na Assembleia, acumulando 250 deputados aliados, poucas dezenas de uma maioria absoluta.
Para conseguir adotar algumas legislações fundamentais de sua gestão, incluindo a altamente impopular reforma das pensões, o presidente e o seu primeiro-ministro precisaram usar ferramentas constitucionais para aprová-las sem a necessidade de uma votação no Parlamento.
O avanço da direita nas eleições internas francesas e o afastamento da esquerda podem tornar ainda mais turbulento seu apoio parlamentar e não há perspectivas de formar uma maioria clara.
Macron afirmou repetidamente a sua vontade de formar uma coligação governamental com os Republicanos, uma aliança que poderia trazer a tão sonhada maioria absoluta no Parlamento. No entanto, o partido conservador resistiu repetidamente à tentativa do presidente e, até o domingo das eleições europeias, estava decidido a não se associar com Macron nas próximas eleições.
Ainda, existe a possibilidade da renúncia de Macron da presidência da França, algo que é improvável, mas foi levantado por um conselheiro do presidente, que comentou sobre a intenção dele em convocar eleições antecipadas para reafirmar sua liderança nacional. “Sou o único que não está a arriscar nada”, disse o mandatário, na ocasião.
Segundo análises de jornais europeus, não está claro se o fim da presidência de Macron significaria o fim de sua carreira política. Embora ele não possa concorrer a um terceiro mandato consecutivo, ainda teria tempo pela frente para tentar uma terceira candidatura futuramente.
Outra possibilidade com as novas eleições é que o presidente francês poderá aumentar ainda mais seus poderes no Executivo, o que é permitido pela constituição francesa, tendo como consequência o enfraquecimento do Legislativo.