Nos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, em mais de uma ocasião, que gostaria de eleger o maior número possíveis de deputados e senadores para ter uma maioria confortável no Congresso Nacional. Com a escalada da crise entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, a eleição para o Senado se tornou a menina dos olhos dos bolsonaristas. E há uma razão para isso: de acordo com o artigo 52 da Constituição Federal, compete privativamente aos senadores o julgamento de ministros do STF, de membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, do procurador-geral da República e do advogado-geral da União. Para ter sucesso na missão de eleger aliados para a Casa Alta, porém, o mandatário do país terá de resolver uma série de impasses que estão colocados a menos de cinco meses do pleito geral. Segundo levantamento da Jovem Pan, Bolsonaro tem nós a desatar em pelo menos cinco unidades da Federação – dois deles ocorrem nos maiores colégios eleitorais do país.
Em São Paulo, no principal Estado do país, a disputa envolve cinco nomes: a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), a deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB-SP), o apresentador José Luiz Datena (PSC), a médica oncologista Nise Yamaguchi (PROS) e o ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Paulo Skaf (MDB). Todos buscam, a princípio, ser o nome bolsonarista que irá disputar a única vaga paulista no Senado. Como a Jovem Pan mostrou, Zambelli passou a se movimentar para ocupar o lugar de Datena em caso de mais uma desistência em cima da hora – o jornalista da TV Bandeirantes é o nome oficial da chapa do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), pré-candidato ao governo de São Paulo. Procurada, a deputada federal afirmou que planeja disputar a reeleição à Câmara dos Deputados, mas ressaltou que aceitaria outros desafios caso fosse provocada a fazê-lo. “Faço parte de uma geração que deseja transformar o Brasil num país próspero, justo e livre de corrupção. Bolsonaro é o líder desse grupo e pretendo contar com seu apoio para qualquer que seja a missão”, disse à reportagem. À Jovem Pan, Datena afirmou que respeita todas as possíveis candidaturas, pontuando que o presidente Jair Bolsonaro “já falou umas 40 vezes que sou seu candidato”. “Acho a Janaina [Paschoal] ótima, a Carla [Zambelli] é ótima, mas quem decide é o presidente”, resumiu. Nise Yamaguchi foi procurada para comentar a disputa eleitoral, mas não se manifestou até a publicação desta matéria.
No Rio de Janeiro, dois candidatos buscam a bênção de Bolsonaro: o já senador Romário (PL), que busca a reeleição, e o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) – condenado a 8 anos e 9 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ataques aos ministros da Corte e às instituições e agraciado pelo perdão presidencial. Em entrevista à Jovem Pan, Silveira reafirmou a sua postulação e disse que a candidatura do ex-jogador de futebol se sustenta em um acordo que teria sido firmado entre o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, preso e condenado no escândalo do Mensalão, e o chefe do Executivo federal. “Ele [Romário] não é e nunca foi bolsonarista. Pelo contrário, votava contra e nunca mencionou o presidente. Agora quer dizer que é bolsonarista, apoiador fiel. Não é, isso é uma inverdade”, criticou Silveira. O senador do PL não respondeu aos questionamentos da reportagem.
No Espírito Santo, pelo menos um dos nomes aventados para a disputa afirma que não há nenhum impasse. Evair de Melo (PP), vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, cotado para brigar pela cadeira capixaba no Senado, disse à Jovem Pan que não tem essa pretensão e que focará em ser eleito para o seu terceiro mandato como deputado federal. Por outro lado, interlocutores de Magno Malta (PL), que no passado havia sido cotado para ocupar o cargo de vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, afirmam que o ex-senador terá, de fato, o apoio de Bolsonaro em sua tentativa de voltar ao Parlamento.
A principal discórdia ocorre no Distrito Federal, em uma guerra fria que envolve as ex-ministras da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos) e da Secretaria de Governo Flávia Arruda (PL), que concorre na chapa do governador Ibaneis Rocha (MDB), que busca a reeleição. Nos bastidores, aliados de Arruda dizem que a cúpula do Republicanos utiliza a postulação de Damares como forma de forçar o Partido Liberal a incluir um quadro da sigla comandada pelo deputado federal Marcos Pereira na primeira suplência da esposa do ex-governador José Roberto Arruda. Em caso de reeleição de Bolsonaro, o retorno de Flávia à Esplanada dos Ministérios é tido como certo, o que abriria caminho para que o primeiro suplente chegasse ao Senado. Damares tenta colocar panos quentes na situação. Recentemente, em conversa com jornalistas após uma reunião com Pereira, ela afirmou que não quer trazer Bolsonaro para “esse constrangimento”. “Quem vai decidir isso [a escolha de qual candidata será apoiada pelo governo] é a população. O presidente tem respeito e admiração pelas duas. Eu tenho respeito e admiração pela Flávia e tenho certeza que de lá para cá é do mesmo jeito. Então, não vamos colocar o presidente na parede para ele escolher. As duas servem a este governo”, disse. É por conta deste cenário que dirigentes do Centrão afirmam que, na hora da definição, Damares tentará uma vaga na Câmara. Ao menos por enquanto, segue a disputa pelo posto de candidata governista ao Senado.
Por fim, na Paraíba, pelo menos três pré-candidatos buscam atrair parte do eleitorado bolsonarista: o advogado Bruno Roberto (PL), o vereador de João Pessoa, Carlão Pelo Bem (Patriota), e o procurador da Fazenda Nacional, Sergio Queiroz (PRTB). À Jovem Pan, Queiroz disse que apoia Bolsonaro, mas entende que o mandatário “já fez as suas escolhas”, em alusão a declarações do presidente em favor da candidatura de Roberto, seu correligionário. Mesmo assim, Carlão Pelo Bem corre por fora e ostenta em suas redes sociais publicações elogiosas e fotos com o chefe do Executivo nacional. Tudo isso de olho no voto do eleitor de direita.
Fonte: J0vem Pan.