A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve confirmar na sexta-feira (19), em reunião da sua diretoria, a proibição do uso de cigarro eletrônico no Brasil, mantendo o teor da resolução tomada pelo órgão em 2009.
A própria indústria do tabaco, que apoia a liberação do dispositivo, dá como certa a manutenção da restrição e prefere apostar na tramitação de um projeto de lei em exame no Senado que permite o uso regulamentado do aparelho.
O projeto, da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), está no estágio inicial de tramitação, ainda pendente de votação em comissões. O ambiente tornou-se menos favorável para projetos dessa natureza na terça-feira (16), depois que o plenário do Senado aprovou uma proposta de emenda constitucional (PEC) do próprio presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), criminalizando o porte de qualquer substância ilícita no Brasil. A PEC passou por 53 votos a 9.
O processo que a Anvisa deve examinar na sexta é a etapa final de uma revisão da proibição que foi iniciada há cinco anos. No mês passado, a Anvisa divulgou o resultado de uma consulta pública, que indicou um amplo rechaço da liberação entre profissionais de saúde e a defesa do uso regulamentado entre representantes de bares e restaurantes e da indústria do tabaco.
A Anvisa deve aprovar uma nova norma que não só mantém a proibição como a reforça. O órgão regulador deverá recomendar “ações adicionais não normativas”, como realização de campanhas educativas, fiscalização de eventual comércio ilícito no meio digital e até reforço de vigilância em aeroportos, para a apreensão de equipamento trazido para venda ou uso próprio.
O cigarro eletrônico, nome genérico que envolve o uso de nicotina, acompanhada ou não de tabaco, sem combustão, é a grande aposta da indústria do fumo para manter a relevância sem depender da venda do cigarro convencional. A modalidade, permitida em 84 países, nenhum deles fronteiriço ao Brasil, é apresentada como uma alternativa para fumantes substituírem o vício, dentro de uma estratégia de minimização de danos.
De acordo com a Philip Morris Brasil, o produto já representa 36% de sua receita no exterior. A empresa faz campanha digital a favor da liberação do dispositivo. A própria campanha admite que os produtos “não são livres de risco” à saúde e só devem ser consumidos como alternativa ao cigarro comum.
Mas afirma que a ingestão de substâncias tóxicas cai 95% em relação ao fumo convencional e que a proibição fomenta o contrabando. De acordo com pesquisa encomendada pelo setor, um em cada cinco jovens já teria tido contato com o produto comercializado de modo ilegal.
No último domingo, em artigo no jornal “Folha de S.Paulo”, oito ex-ministros da Saúde nos governos Fernando Henrique, Lula, Dilma e Bolsonaro afirmaram que o cigarro eletrônico contém substâncias (nicotina, alumínio, cromo, níquel, cobre) que causam as mesmas doenças provocadas pelo uso do cigarro comum, além de trazer riscos de explosão da própria bateria.
De José Serra (1998-2002) a Nelson Teich (2019), o documento foi assinado por todos os ex-titulares do cargo, com exceção de Ricardo Barros (governo Temer), Marcelo Queiroga (governo Bolsonaro), Alexandre Padilha e Marcelo de Castro (ambos do governo Dilma).