A era dos data centers: a explosão da demanda por capacidade de processamento no mundo ultraconectado | ESG

Por Milkylenne Cardoso
7 Min Read

No mundo contemporâneo, marcado por intensa conectividade e pela crescente utilização de Inteligência Artificial (IA), a demanda por data centers e capacidade de processamento atingiu níveis sem precedentes. Estes centros tecnológicos são a espinha dorsal da infraestrutura digital que suporta desde redes sociais até operações críticas de empresas globais.

A expansão da Internet das Coisas (IoT), o desenvolvimento de tecnologias autônomas, como carros e drones, e a proliferação de dispositivos móveis inteligentes são alguns dos principais motores dessa demanda vertiginosa. Cada dispositivo conectado gera e consome dados em taxas impressionantes, alimentando um ciclo de necessidade contínua por capacidade de processamento.

A IA, em particular, desempenha um papel crucial nesse cenário. Desde algoritmos de aprendizado de máquina até redes neurais complexas, a capacidade de processamento necessária para treinar e executar esses modelos é colossal. Grandes empresas de tecnologia, como Google, Amazon, Microsoft, IBM e outras, investem bilhões na expansão de seus data centers para suportar essas cargas de trabalho intensivas.

Os data centers modernos não são mais apenas salas cheias de servidores que nunca desligam; eles evoluíram para megacomplexos altamente sofisticados, distribuídos globalmente para garantir baixa latência e alta disponibilidade. O consumo eficiente de energia é um desafio significativo, levando à busca de soluções mais produtivas, como refrigeração líquida e energias renováveis.

Por exemplo, uma consulta no ChatGPT consome em média 15 vezes mais energia que uma simples pesquisa no Google. Dados de março de 2024 mostram que o ChatGPT já tem mais de 180 milhões de usuários ativos, o que representa um consumo de energia diário equivalente ao de mais de 60.000 casas, maior do que é consumido pela cidade de Itu, em São Paulo.

O acesso a energias renováveis se tornou um caminho crítico para toda indústria. Segundo estudo da McKinsey & Company, o mercado de data centers deve dobrar até 2030. Grandes provedores como Apple, Google e Meta já fazem compensação de carbono e estão comprometidos a consumir energia 100% limpa até 2030.

A inserção do ESG na infraestrutura digital

À medida que a demanda por capacidade de processamento continua a crescer, novas tecnologias, como computação quântica, prometem revolucionar ainda mais o cenário dos data centers. Essa evolução não só aumentará a capacidade de processamento, mas também apresentará novos desafios no consumo de energia. Segundo a International Energy Agency (IEA), o consumo de eletricidade nos data centers poderá dobrar até 2026 e ultrapassar 1.000 TWh, o equivalente ao consumo de eletricidade do Japão inteiro.

Neste contexto, a implementação de práticas ESG (Environmental, Social, and Governance) se torna essencial. A sustentabilidade envolve a adoção de energias renováveis, redução de emissões de carbono e utilização de tecnologias verdes. Socialmente, as empresas devem considerar o impacto das suas operações nas comunidades locais e no bem-estar dos trabalhadores. Já a governança exige transparência, responsabilidade corporativa e práticas éticas na gestão dos dados.

Por conta disso, estamos vivendo uma corrida contra o tempo por geração de energia limpa. Segundo a IEA, a energia renovável no mundo será maior que a energia fóssil já em 2026. No Brasil, a energia solar e a eólica devem crescer cerca de 50% até 2026, atingindo um total de 95% da matriz energética do país, muito acima dos 35% da média mundial. Isso é um grande impulso para a criação de infraestrutura digital e, consequentemente, para suprir a demanda acelerada das tecnologias emergentes como Cloud, IA e IoT.

Nesse sentido, o Brasil se encontra em posição bastante favorável para melhorar a produtividade nas empresas brasileiras. Um estudo sobre produtividade, publicado pela FGV, mostra que o trabalhador brasileiro leva uma hora para fazer o que o americano faz em 15 minutos. Desconsiderando o abismo educacional existente entre os países, que levará algumas gerações para ser corrigido, a adoção dessas tecnologias poderá ajudar muito na competitividade das empresas brasileiras.

Em um mundo ultraconectado, onde dados e tecnologias emergentes como AI e a IoT se tornaram fatores críticos de sucesso e competitividade para as empresas, os data centers são as estruturas fundamentais para sustentar essa nova era.

O desafio atual não é apenas acompanhar a demanda exponencial por capacidade de processamento, mas também fazê-lo de maneira sustentável e segura para o nosso planeta, alinhando-se aos princípios ESG para garantir um futuro mais equilibrado e responsável.

Serafim Abreu é vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP). Foi presidente da Diretoria Executiva do IBEF-SP e soma mais de 25 anos de experiência no mercado de tecnologia e serviços, onde ocupou posições de CEO, COO, e CFO em empresas como IBM, Scala Data Centers, e Time for Fun. É graduado em administração de empresas pela Universidade Cândido Mendes, com MBA em gestão pela Fundação Dom Cabral e educação executiva pela Universidade de Harvard.

(*) Disclaimer: Este artigo reflete a opinião do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Serafim Abreu é vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP) — Foto: IBEF-SP/ Divulgação

Fonte: valor.globo.com

Share This Article