No dia 15 de maio, o economista Lawrence Wong assumiu o cargo de primeiro-ministro de Singapura, marcando parcialmente o fim de uma era dominada por uma única família no pequeno território insular: os Lee, que ficaram 45 anos no poder, desde a independência da antiga colônia britânica e da Malásia, em 1965.
A nova figura de liderança, no entanto, não indica uma mudança radical na forma de governar o país, visto que Lee Hsien Loong, de 72 anos, renunciou à posição após 20 anos no poder, mas continua atuando como ministro sênior do vice-primeiro-ministro e também ministro das finanças, Wong, que agora ocupa seu lugar.
Singapura é considerada uma história de sucesso quando o assunto é desenvolvimento econômico e social, uma vez que, em poucas décadas, passou de local agrário e sem recursos naturais para uma das maiores economias do mundo, servindo de exemplo para nações vizinhas e até para as mais distantes.
Seu PIB per capita – indicador que ajuda a medir o grau de desenvolvimento econômico de um país – é de US$ 88,4 mil (cerca de R$ 460 mil), segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), enquanto o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) também impressiona: 0.949, número considerado muito alto na medição que coloca a Suíça em primeiro lugar, com 0.967.
O cálculo do IDH leva em conta o desenvolvimento de um país a partir de três fatores: saúde, educação e renda. A ilha asiática se destaca em todos eles, especialmente nos altos níveis de ensino, uma referência mundial.
Por trás dessa ampla transformação está uma figura controversa: o autocrata Lee Kuan Yew, considerado o “fundador” da Singapura moderna que deu início à “dinastia” Lee. Ele foi responsável por dar os primeiros passos para tornar o país um grande centro industrial e financeiro do mundo.
Em 2022, Singapura tomou o título de Hong Kong no Índice Global de Centros Financeiros (GFCI, na sigla em inglês) como o principal centro financeiro da Ásia e, no ano passado, foi eleito pelo think tank britânico Z/Yen e o Instituto de Desenvolvimento Abrangente de Shenzhen como o terceiro maior centro financeiro do mundo, deixando novamente Hong Kong e Xangai para trás, que aparecem, respectivamente, na quarta e sétima colocações.
Entre as medidas que contribuíram com o “boom” de Singapura nas últimas décadas estão a baixa intervenção do Estado em questões comerciais, com baixos impostos e poucas restrições de capital, ambiente propício para atrair empresas.
O país tem como base o livre comércio, realizando importantes acordos nesse sentido com os Estados Unidos, a China e a União Europeia.
Além da abertura econômica, que rendeu excelentes resultados à ilha, a gestão guiada por Lee fez um grande investimento no capital humano, priorizando especialistas como funcionários de seu governo, inclusive de fora do país, e pagando altos salários em troca da qualidade profissional.
Também foi promovida uma série de programas para geração de empregos e construção de moradias sociais.
Liberdade de expressão ainda é um problema
Apesar das conquistas em muitas áreas de desenvolvimento econômico e social, o país ainda sofre críticas pela falta de liberdade de expressão.
A questão é observada desde os primeiros anos de independência, no final da década de 1960, a partir de uma política de forte controle da vida privada e da supressão de liberdades individuais, que resultou na perseguição de opositores da autocracia que se desenvolvia no continente asiático.
As leis rigorosas que regulam o discurso inclusive são responsável por colocar Singapura em 126º lugar no ranking dos Repórteres Sem Fronteiras.
Quem é Lawrence Wong, novo primeiro-ministro
Lawrence Wong tem 51 anos e assumiu neste ano o cargo de primeiro-ministro de Singapura após a renúncia de Lee Hsien Loong. Ele se tornou a quarta personalidade do Partido da Ação Popular (PAP), que lidera o país ininterruptamente desde a independência, a subir à posição e o primeiro líder nascido depois de 1965.
Experiente na vida pública, Wong foi vice-primeiro-ministro até este ano e tem vasta atuação em outras funções no Estado, incluindo um período em que foi designado secretário particular do filho do “fundador”, antes de ser escolhido a dedo para se tornar membro do parlamento e ministro.
Também trabalhou no Ministério do Comércio e Indústria (MTI), no Ministério das Finanças (MOF), no Ministério da Educação e no de Saúde, tendo se destacado neste último por conta da pandemia, quando integrou uma força-tarefa de combate à covid-19, participando de coletivas quase diárias entre 2020 e 2023.
Mas o caminho não está totalmente feito para Wong, que possui apoio quase unânime de seu partido, contudo deve enfrentar eleições gerais até novembro do próximo ano.