A morte de Saleh al-Arouri, identificado como vice-líder do Hamas,
em
um ataque aéreo vinculado a Israel realizado no Líbano nesta terça-feira (2)
foi considerado como um “duro golpe” para o grupo terrorista que controla a
Faixa de Gaza desde 2007.
Al-Arouri era considerado como um dos “principais estrategistas” e
“diplomatas” do Hamas, responsável por planejar ataques contra Israel e
fortalecer os laços do grupo terrorista palestino com o Irã e os terroristas do
Hezbollah, que atuam no território libanês.
Saleh al-Arouri nasceu em 1966 em uma vila perto de Ramallah, na
Cisjordânia ocupada por Israel. Ele se envolveu com o Hamas desde a sua
fundação em 1987, inspirado pela Irmandade Muçulmana. Al-Arouri foi um dos
membros fundadores das Brigadas al-Qassam, o braço armado do Hamas, e
participou de vários ataques contra soldados e colonos israelenses.
Ele passou 15 anos na prisão israelense por suas atividades
terroristas, e foi libertado em 2010 como parte de um acordo para a troca de
prisioneiros entre Israel e o Hamas. Logo após sua libertação, al-Arouri foi
deportado para a Jordânia, mas teve que sair do país após uma pressão feita por
Israel contra sua presença naquele lugar. Ele então se mudou para a Síria, mas
também teve que deixar o país após o início da guerra civil e o rompimento
entre o Hamas e o regime do ditador Bashar al-Assad, aliado do Irã.
Após suas idas e vindas por países do Oriente Médio, al-Arouri se
estabeleceu na Turquia e de lá montou um quartel-general do Hamas na
Cisjordânia, que ficou encarregado de recrutar e treinar terroristas para
planejar ataques contra o Estado judeu. Um desses ataques foi o sequestro e
assassinato de três adolescentes israelenses na Cisjordânia em 2014, que
desencadeou uma guerra de 51 dias em Gaza. Al-Arouri reivindicou a autoria do
ataque, chamando-o de “uma operação heroica”.
Em 2015, ele foi considerado como um terrorista global pelos
Estados Unidos, que ofereceram uma recompensa de até US$ 5 milhões por
informações sobre seu paradeiro. Ele também foi acusado por Israel de conspirar
para derrubar o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que governa
partes da Cisjordânia.
Em 2017, al-Arouri foi eleito vice-presidente do comitê político do Hamas, o segundo cargo mais alto da organização terrorista. Nesse posto, ele se tornou o principal interlocutor do grupo terrorista palestino com o Irã e o Hezbollah, buscando reforçar o apoio financeiro e militar desses que agora são aliados do Hamas. Na posição de número dois do grupo terrorista, al-Arouri visitou Teerã e se encontrou com o líder supremo do regime islâmico, Ali Khamenei, e com o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, para discutir a “colaboração contra Israel”.
Al-Arouri era bastante próximo do líder do Hamas em Gaza, Yahya
Sinwar, que neste momento está sendo caçado no enclave palestino pelas forças israelenses.
Segundo informações do jornal americano The New York Times, nos últimos
anos, o número dois do grupo terrorista palestino estava morando em Beirute,
capital do Líbano, onde exercia a função de “embaixador” do Hamas para o
Hezbollah.
Durante os ataques terroristas do Hamas, realizados contra Israel
no dia 7 de outubro de 2023, que deixaram mais de mil pessoas mortas no Estado judeu,
al-Arouri foi visto se reunindo com Nasrallah e Ziad Nakhale, o
secretário-geral da Jihad Islâmica Palestina, outro grupo terrorista que atua
em Gaza. Segundo o The Times, citando informações da agência oficial do
Hezbollah, a al-Manar, naquele momento eles discutiram formas de
coordenar as forças terroristas para “alcançar uma vitória total e interromper
o brutal ataque ao povo oprimido de Gaza e da Cisjordânia”.
Morte de al-Arouri pode ter impactos na guerra
Segundo analistas, a morte de al-Arouri pode ser um risco para a escalada do conflito que ocorre em Gaza desde os ataques terroristas do Hamas. Representantes do Irã e do próprio Hezbollah prometeram “vingar” o fim do terrorista palestino e disseram que estão “prontos” para um eventual conflito contra o Estado judeu.
Por sua vez, Israel até o momento não assumiu oficialmente e nem negou a responsabilidade pela morte do número dois do Hamas, no entanto, informações veiculadas pelo jornal americano The Wall Street Journal no começo de dezembro, apontam que o governo israelense estava planejando matar os principais líderes do grupo terrorista que vivem no exterior.
O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI), Daniel Hagari,
disse na terça que seu país não iria comentar o caso, porém, deixou claro que as
forças israelenses estão “preparadas” para qualquer cenário que esteja por vir.
Nesta quarta-feira (3), o chefe do Estado-Maior do Exército israelense, Herzi
Halevi, visitou a área de fronteira com o Líbano.
As forças israelenses estão na fronteira norte do país em um
“momento muito forte de preparação”, apontaram as tropas na área, de
acordo com um comunicado divulgado nesta quarta pelo Exército do Estado judeu.
O governo israelense acusava al-Arouri de estar por trás do ataque
terrorista realizado contra o seu território, informação que foi corroborada
pelos Estados Unidos nesta quarta-feira. Os EUA afirmaram que o vice-líder do Hamas
morto no Líbano era um “terrorista brutal com sangue civil em suas
mãos”.
Durante uma coletiva de imprensa, o porta-voz do Departamento de
Estado dos EUA, Matthew Miller, responsabilizou, assim como o governo
israelense, o vice-líder do Hamas pelos ataques terroristas realizados contra o
Estado judeu e por envolvimento em outros ataques contra civis. O governo
americano, no entanto, não quis se pronunciar sobre a autoria do ataque que
eliminou al-Arouri na terça.
Segundo informações do The New York Times, a morte de al-Arouri pode dificultar neste momento os esforços do Hamas para se reconstruir militarmente com a ajuda de apoiadores estrangeiros, já que o falecido número dois dos terroristas foi quem ajudou a canalizar o dinheiro e as armas para que o grupo palestino pudesse operar na Faixa de Gaza e em outras partes do Oriente Médio. O jornal americano também lembrou que foi al-Arouri quem integrou o grupo terrorista à rede de forças do Irã comprometidas com a “luta contra Israel”.
Para Emile Hokayem, diretor de segurança regional no Instituto
Internacional de Estudos Estratégicos, “o Hamas irá sofrer porque perdeu um de
seus principais estrategistas”. Hokayem apontou ao The Times que al-Arouri
“gerenciava bem os relacionamentos políticos e tinha credibilidade como
comandante” dentro do grupo terrorista palestino.
Maha Yahya, diretora do think tank Carnegie Middle East Center, também disse ao jornal britânico Financial Times que a morte de al-Arouri foi um “golpe significativo” para o Hamas nesse momento, não apenas pelo seu papel como um dos fundadores da ala militar do grupo terrorista, mas também por causa da sua habilidade “em termos de liderar o Hamas na Cisjordânia”.
O Hamas tentou minimizar o impacto da perda de seu vice-líder,
afirmando que não será “influenciado pelas sucessivas mortes de seus membros”. O
líder político do grupo terrorista palestino, Ismail Haniyeh, disse em um
pronunciamento na televisão ainda na terça que assim como nas anteriores, a
morte de al-Arouri “não afetará a ‘marcha da resistência’ e da luta contra a
ocupação”.
Segundo informações do Financial Times, o Hamas deverá
preencher de forma “rápida” a função deixada por al-Arouri. Guy Aviad,
historiador e autor de vários livros sobre o grupo terrorista palestino, disse
ao jornal britânico que “no Hamas, nunca há um vácuo. Todos, não importa quão
seniores [eles sejam], têm um substituto. Vimos isso várias vezes”.
Informações do The New York Times apontam que realmente o
grupo palestino tem uma “hierarquia interna” que facilita a substituição de
seus líderes, e uma base popular entre os palestinos que apoiam o que
classificam como uma “luta de resistência” contra Israel.
Além de poder ser um ponto para uma eventual escalada do conflito,
a morte do número dois do Hamas fora de Gaza também pode significar neste momento
que os terroristas do grupo palestino, principalmente os seus líderes, não
podem mais operar livremente no Líbano, país que estava sendo utilizado
frequentemente pelo gabinete político do Hamas como local para a realização de frequentes
coletivas de imprensa sobre a guerra. Além disso, o ataque acende um alerta aos
terroristas, já que os mesmos não estão mais “seguros” nos países que utilizam
para se refugiar.