Qualidade de vida, segurança, boa remuneração e flexibilidade. Estes foram alguns dos atrativos que levaram a brasileira Gabriela Lodewijks, natural de Porto Alegre, a se mudar para o país europeu. Além dela, pelo menos 76.500 brasileiros vivem na Holanda, segundos as estimativas mais recentes (2022) do Itamaraty.
Desde 2010 morando nos Países Baixos, a gaúcha conheceu o marido, que é holandês, ainda aqui no Brasil, quando o companheiro morou por dois anos no país.
A decisão de retornar ao país do companheiro aconteceu depois do nascimento da primeira filha no Brasil, atualmente com 21 anos. Gabriela decidiu, junto com o marido, que gostariam de ter mais segurança e flexibilidade para que ela conseguisse conciliar a jornada profissional com a maternidade.
A Holanda é considerada um dos países mais seguros do mundo. A nação está na 16º posição no ranking que elege as nações mais seguras, segundo o relatório do 17º Índice Global de Paz, do Institute for Economics and Peace, feito com 163 países.
“Aqui meu filho brinca o dia inteiro na rua sem preocupação, vai sozinho para a escola de bicicleta e não acontece nada. Os estádios, por exemplo, são muito seguros. Isso para mim valeu muito”, comenta.
O país também aparece no ranking entre os dez países mais felizes do mundo tanto para a população em geral (6º lugar), como para jovens com idade inferior a 30 anos (9º lugar) e idosos com 60 anos ou mais (7º lugar), pelo Relatório Mundial da Felicidade da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Aqui eu consegui ser mãe dos meus filhos”
O segundo ponto que motivou Gabriela a ir com o marido para a Holanda foi que, quando morava aqui no Brasil, a filha mais velha de Gabriela passava o dia inteiro na escola para que a mãe pudesse trabalhar. Segundo a brasileira, a Holanda permitiu que ela tivesse mais tempo livre para ficar com os filhos.
“Como minha filha passava o dia inteiro na escola e eu no trabalho, chegava o fim do dia e estávamos cansadas. Ela já dormia no carro voltando para casa, então não conseguíamos brincar. Aqui eu consegui ser mãe dos meus filhos e trabalhar”, ressalta.
A Holanda oferece regimes de trabalho que são acordados entre as partes, facilitando a conciliação das duas áreas. De acordo com Gabriela, quando um profissional aplica para uma vaga na própria entrevista, já diz a sua disponibilidade de horas para o trabalho.
“Olha, eu só tenho disponibilidade para três dias, cinco dias. As empresas estão abertas a isso. Tem vagas que você trabalha só dois dias na semana, e claro, a remuneração varia a depender disso”, explica.
Um outro ponto, explica a brasileira, é que ela e o marido tiveram dificuldades para empreender no Brasil, relacionadas a burocracias e a própria cultura de trabalho.
“Para a gente, é comum atrasar. Para eles, não, o que gerou estranheza. Empreender é bem mais fácil na Holanda. Ele [o marido] conhece a cultura, língua, direitos. No Brasil estamos acostumados com atraso, mas ele não e isso acabou atrapalhando”.
Benefícios da Holanda, segundo a brasileira:
- Oportunidades de trabalho, mesmo para pessoas sem diplomas;
- Bons salários, suficientes para viver bem no país;
- Plano de saúde gratuito para crianças até 18 anos;
- Ensino escolar gratuito: paga-se somente uma taxa opcional ao governo de €70 caso o morador do país;
- Mobilidade: todas as ruas são planejadas com ciclovias, facilitando o deslocamento, além de bom serviço de ônibus;
- Infraestrutura: planejamento da cidade para lidar com grandes volumes de chuva, neves, por meio de asfaltos adaptados; equipamentos culturais e de lazer gratuitos e com acessibilidade em todos os locais.
“Aqui, mesmo sem diploma, se ganha um salário justo”
Ao longo dos 14 anos residindo no país, Gabriela começou uma carreira como recrutadora de profissionais de outros países da Europa para trabalhar na Holanda. Ela também atua como mentora de carreiras para mulheres brasileiras que migram para o país. Já o marido, que já era açougueiro, abriu o próprio negócio no ramo.
Segundo a brasileira, os ganhos, tanto para quem empreende, trabalha como autônomo, tem ou não diploma, são bons. “Na rua, você não consegue ver a diferença de quem tem diploma ou não. Os carros são os mesmos, o estilo de vida. Tudo é muito parecido e o salário dá para viver com tranquilidade no país”, diz.
O salário mínimo geral no país, desde o início deste ano, é de €13,27 por hora, o equivalente a R$76,34 na cotação de 4 de junho, de acordo com a Fragomen, empresa de migração global. Para estagiários, o valor é de €3.909 brutos por mês e especialistas, €5.331 por mês.
Segundo a Numbeo, banco de dados de custo de vida que recebe contribuição de preços do próprio consumidor, o custo de vida da Holanda é, em média, 96,1% maior que no Brasil. No entanto, Gabriela diz que sente o país mais barato do que quando viaja para o Brasil para visitar a família por causa da relação de quanto se ganha e da qualidade de vida oferecida lá.
O país está em 10º lugar no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em 2024. O levantamento é calculado com dados da renda nacional bruta per capita das nações, escolaridade e saúde por meio da expectativa de vida.
Para quem deseja morar no país, o idioma falado lá, o holandês, pode ser uma dificuldade, mas é possível se comunicar no inglês no início, já que boa parte dos holandeses também fala o idioma.
Além disso, a brasileira enfatiza que há oportunidades de trabalho para diversas áreas em que nem sempre a fluência idioma do país é exigida. “Se souber o inglês, consegue emprego. Mas se souber o holandês, claro, as remunerações são melhores”, diz.
Para as pessoas que não possuem conhecimento sobre o idioma, há cursos gratuitos por meio do Taalkrackt, programa do Governo.
Dependendo do tempo de permanência no país, se para visitar ou morar, muda o tipo de visto. O governo do país oferece um teste online para saber em quais casos o visto é exigido e qual o visto necessário.
Para os interessados em trabalhar no país, a Holanda também oferece, no site do Governo, informações sobre como conseguir autorização para residência, check-list de mudança e páginas com vagas disponíveis.